Oh yeah, baby.

Hoje é o Dia do Orgasmo. Reza a lenda que se você ganhar um nesta data, vai gozar de um prazer descontrolado, luxurioso e intenso para te acompanhar nas próximas 24 horas, a partir da entrega do presente. O dia de hoje também é indicado para quem precisa relaxar, suar, queimar calorias, alongar e fazer tratamento de pele. Mas o bom mesmo é só pensar na diversão. E, sem (ou com) sacanagem: mesmo que você seja muito independente, essa comemoração será melhor a dois. Enjoy.

Bilhete de amor

Dona Linda é a avó mais linda e fofa do mundo, mesmo derrapando na hora de escrever Chris. O bilhetinho atencioso e o bolo de banana delicioso que ela preparou para eu trazer de lanche para a galera da agência desculparam tudo. Hummmmmm!!! :o)

Prazo de validade

Você já se sentiu velho demais para alguma coisa que desejasse muito fazer? Ou novo demais para outra? Ouvir, dançar ou cantar uma música. Ver um desenho animado, ou um clássico do cinema mudo. Soltar pipa. Conhecer a Disney. Tocar violão. Bateria? Flauta? Mudar de profissão. Ter um filho. Namorar alguém com idade muito diferente da sua. Emagrecer. Qualquer coisa. Pensa aí. Você vai lembrar. Eu já não me sentia assim há muito tempo e foi bem chato. Aconteceu no domingo passado, num churrascão onde fui de penetra com amigas de longa data. Todas casadas, mães de 2 filhos, no mínimo. Todas maravilhosas, engraçadas e alto astral. Elas se divertem muito com as minhas histórias. Eu me formei com a mais nova da família e temos muitos causos para contar. Tudo ia bem quando Beautiful Day cedeu lugar à Festa, de Ivete Sangalo. Lá pela metade da música, lembrei que ela se apresentará aqui, em agosto. Eu nunca fui a um show dela em Vitória.

Eu (animada): Acho que vou dormir na sua casa depois do show da Ivete.
Amiga 1 (solícita): Pode ir. O povo lá de casa vai também.
Eu (rindo): Pois é. É longe pra caramba e o táxi vai me custar um rim.
Amiga 1 (solícita): Vamos combinar de você ficar lá em casa, sim.
Amiga 2 (rindo): Anna, você vai parar com essa vida quando?
Eu (sustentando o sorriso): Por quê? Você quer que eu fique em casa fazendo sapatinho para os filhos das minhas amigas?

Não sei como ficou a minha cara porque sou muito transparente e dei a resposta tentando não perder a linha. Me senti péssima e mais velha do que a Dercy. Nesse exato momento, fui salva pela música que marcou meu carnaval de Salvador: “Eu fui atrás de um caminhão fazer meu carnaval e o carnaval é feito no coração...”

Relembrei o domingo de carnaval, a energia que senti no Farol da Barra, sob o céu azul e cercada por uma multidão colorida e alegre que estava lá para ver o Chiclete. A sensação chata logo passou, mas fiquei encafifada com esse assunto. Quando a gente tem que deixar de gostar de fazer alguma coisa que realmente adora? Qual o fator decisivo? A idade? Estar casada? Ter filhos? PEMMMM. Respostas erradas. Pelo menos para mim e para outras amigas solteiras, casadas e separadas, de idades tão variadas quanto os gostos musicais e culturais. O fator, que eu perguntei e eu mesma vou responder, é só um: a cabeça. E a minha nunca terá preconceitos de que existe idade para a diversão.

Eu me apaixonei pelo trio elétrico aos 16 anos e agora, que vou fazer 35, a folia ficou inadequada para mim? Pensei nisso um tempão. Eu deveria ficar deslocada no meio daquela multidão puxada pelo Chiclete com Banana em Salvador? Eu me senti em casa. Será muita animação e energia para uma balzaca? Deveria arrumar uma turma e voar para Olinda, vestir fantasia e seguir as marchinhas? Ou adultos fantasiados também são inapropriados? Quem sabe me isolar em algum lugar bonito e calmo, ler um livro cult e ver uma dezena de filmes cult durante todo o carnaval? Só pra dizer que sou cult? Cultérrima? Pois eu não vou fazer nada disso. E não é por estar solteiríssima, porque se estivesse casadíssima, pode ter certeza de que meu amor me faria companhia. E se eu tivesse filhos, eles ficariam em casa com a minha mãe, que nunca gostou de carnaval (viva a diferença!). Para quem acha que Salvador não é balada para casal, vou falar sobre a Marcela e o Jônio, que estão juntos há uns 12 anos, e também foram comigo. Algumas noites eles só chegaram em casa depois de mim. O casamento não invalida o espírito folião.

Logicamente certas preferências mudaram de uns anos para cá. Já que comecei falando sobre música baiana, confesso que gostava muito de axé, mas os únicos que ouço agora são o Chiclete e a Ivete, em momentos especiais. Por outro lado, me rendi ao blues e a ópera que, antes, achava uma gritaria sem fim. Carmen me conquistou. Filmes? Muito sangue anda me deixando nervosa. Dança? Continuo amando sacudir o esqueleto em boates e até em casa. Um ainda dia faço aulas de dança de salão. Livros? Gosto tanto do Harry Potter quanto o último que li: Quando Nietzsche Chorou. Cultura ou esbórnia? Em SP, cheguei a trocar uma noitada num club para ver O Fantasma da Ópera.

É claro que o tempo nos torna mais exigentes e seletivos, mas esse tempo se refere mais à experiência acumulada do que com o passar das primaveras. Quem não compreende isso, constrói um contador invisível que vai minando algumas possibilidades que seriam espetaculares, como mudar de profissão ou de cidade. O prazo de validade só acaba quando a vontade se esgota por conta própria e não por imposição. Chega de preconceito, gente. Eu nunca vou deixar de fazer as coisas que gosto por um motivo muito simples e definitivo: me sinto feliz.

DEPOIS DO THE END - ET & Guerra dos Mundos

A pequena Rachel estava no seu quarto lembrando dos maus bocados que tinha passado no mês anterior. Não conseguia acreditar que os ET's maus, tão feiosos e inteligentes, tinham morrido de morte morrida. "E ainda tem gente que torce o nariz para bactérias e outras coisinhas do gênero" – ela pensava. Depois desse episódio passava, no mínimo, três dias sem tomar banho, contando aí, sábados, domingos e feriados. Quando a mãe perguntou por que estava agindo como o Cascão, ela explicou:

- Mãe, se todos fossem assim, eles não teriam sobrevivido dois dias em contato com a gente - e decidiu parar de lavar as orelhas por tempo indeterminado.
- O que é isso!? Não criei filha minha pra virar menina bomba!

Depois que a mãe saiu reclamando que, se fosse assim, nenhum alienígena teria a ousadia de pisar em Paris, Rachel ouviu um barulho dentro do armário. Alarmada, pegou a folha de alface estragada que tinha escondido na gaveta para alguma emergência e, na ponta dos pés, se aproximou. Num movimento rápido, escancarou a porta e deu de cara com o ET do filme ET - O Extraterrestre. Rachel começou a berrar. Aquele gritinho insuportável que só uma garotinha do cinema consegue dar. O ET, com cara de "já vi esse filme antes" disse:

- De novo essa cena?

Rachel ficou tão apavorada que perdeu a voz.

- Pára com isso, você é tão cansativa.
- Que-quem é você?
- Como assim, quem sou eu? Tudo bem que fui embora há uns 25 anos, mas pensei que nunca fosse me esquecer. Eu nunca esqueci de você. Pelo menos não dos seus gritos.
- 25 anos? Mas parece que foi o mês passado!

ET esticou o longo pescoço e foi chegando mais perto dela. Mas antes que Rachel começasse a berrar novamente, perguntou:

- Cadê seu irmão? Ele sim, era meu chapa.
- Mudou pra casa do papai. Disse que essa esposa dele é demais. Meio pau mandando, mas bem jeitosinha.
- Mas isso é quase um incesto!
- No mínimo uma pouca vergonha.
- Esse filme é do Spielberg?
- É.
- É sobre ET' s?
- No caso de dúvida, tem um espelho logo ali.
- Você é a caçula?
- Por enquanto sim.
- E esse cabelo louro? É seu ou é pintado?
- Se continuar a ver ET's todo mês, vou precisar em breve.
- Você não é a Gertie, mais conhecida como Drew Barrymore?
- Meu nome é Rachel, mais conhecida como Dakota Fanning.
- Esse filme é mesmo do Spielberg?
- Um sucesso de bilheterias!
- Não tô entendendo... ET's, uma garotinha lourinha e histérica, direção do...
- Ahá! Agora eu reconheci você! Você é o ET, de ET, O Extraterrestre! É um ET bonzinho!

ET olhou com cara de tédio e deu um longo um bocejo.

- Como pude me esquecer do: "ET... fone... home..." - falou tremendo a voz.
- Esqueça isso, pirralha. Detesto lembrar da época que não sabia juntar três palavras.
- A ponta do seu dedo ainda fica luminosa?

Rachel corou quando ET esticou um dedo pra ela. E não foi o indicador.

- Por que o mau humor?

- O que você esperava? Depois de 25 anos, consigo um visto de turista para voltar à Terra, dar umas voltas de bike ao luar e tomar uns gorós no Dia das Bruxas e, depois de saculejar anos luz naquele disco voador caindo aos pedaços, eu chego aqui e encontro a bonita aí, com essa cara de interrogação e cheiro de quem não toma banho há uma semana.
- Ahh, cai fora. Você tá no filme errado. Na sua época eu nem era nascida, vovô.

ET começou a ficar sem jeito.

- Se eu fosse você, baixava a bola. Os ET's bonzinhos do cinema estão em decadência, sabia?
- Bonzinhos não, mas frouxos, sim. Onde já se viu. Depois te tanto trabalho, ter um fim daquele? Francamente!
- Você fala isso pra menosprezar seus conterrâneos, que chegaram aqui botando banca.
- Eu não tenho parentesco algum com essa espécie... tão... tão sensível - e saiu saltitando imitando passinhos de balé.
- Pode dizer o que quiser, mas MEU filme de ET's é muito melhor que o seu.
- Por quê? Vai dizer que seu irmão é mais legal que o irmão da Gertie?
- Não.
- Então...?
- Mas o meu pai, fofo, é o Tom Cruise.

ET abriu a boca pra protestar, mas diante dessa argumentação, achou melhor ficar calado. O Tom, decididamente, fazia um bocado de diferença.

Fantasias sexuais

Quem não tem as suas? De conhecer o outro, no sentido bíblico, na escada do prédio? Se inspirar na Cicarelli pro amasso na praia. Brincar de médico depois da adolescência. Usar o nó de marinheiro pra soltar os bichos. Arrancar a roupa, mas não tocar nas meias 7/8 e saltos depois da festa. Fazer “upa, upa” enquanto brinca de cavalinho nas costas do outro (se você tem problemas na coluna, evite). Afogar o ganso no pedalinho do lago. Enxergar com outros olhos um bolo recém saído do forno. Usar aquela cuequinha de elefante. Achar que dois é pouco, e que o bom mesmo é juntar três, quatro, cachorro, gato, galinha e papagaio. E por aí vai.

São tantas, tão variadas e inusitadas que fico imaginando de onde vieram. Como elas nasceram e sussurraram (baixinho, roucamente, no ouvido): “hummm... como nunca tinha pensado nisso antes... vai ser uma loucura... tô dentro”. Ou quando urraram: “o cinto, use o cinto!”.

Da minha eu sei bem. Foi aos 14, 15 anos, no cinema. Não, não estou falando dos lanterninhas. Minha fantasia saiu do armário no exato momento em que o Tom Cruise, Val Kilmer e os outros gatérrimos sugiram na telona andando em câmera lenta, usando macacão e Ray Ban. Ahhh... Top Gun. Tudo começou ali. Eu sou louca por uma farda. E a de piloto é a mais mais, claro. Não é segredo. Todo mundo que me conhece sabe disso. Mas pensando agora, acho que esse negócio já vinha comigo desde criança, quando ia visitar o exército no Dia do Soldado. Tinha um primo que servia e sempre me levava num roteiro diferente dos outros coleguinhas da escola. E eu ficava lá, achando o máximo os homens que defendiam nosso país. Aí veio o filme e pimba! Perverteu a visão inocente. Good!


Anos depois, vestida de Mulher Gato numa Festa à Fantasia e me perguntando aonde estavam os morcegões do pedaço, aconteceu: me deparei com SEIS pilotos num canto. Juro. SEIS caras usando macacões e óculos escuros. Fiquei estatelada. Foi quase uma overdose. Imediatamente, eu me peguei com Santo Antônio e logo um se aproximou.

- Oi. Se eu soubesse que ia conhecer você, teria vindo de Batman.
- Nenhuma outra fantasia* seria melhor do que essa – respondi, sem acreditar na minha sorte.

Depois disso, ouvi 'Take my breath Away' durante uma semana na agência. Eu chegava e o Thiago ligava o som.

O problema começou quando vim trabalhar na Praia da Costa. Na primeira semana, enquanto criava um roteiro, sentada no quintal, ouvi os gritos de guerra. A praia fica aqui pertinho e o batalhão sempre corre nessa área. Fui rápido pra uma fresta da parede. Eles já estavam perto. Eu já dava risadinhas nervosas quando os primeiros chegaram. Garotos, magrelinhos, com shorts verdes curtos e camisetas brancas largas. Nada cinematográfico. Um balde de água fria. Foi uma decepção tão grande que quase não consegui mais criar nada. Depois disso, eles já passaram muitas outras vezes. Agora eu até corro pra dentro, coloco os fones e aumento o som. Uma visão daquela pode acabar com qualquer fetiche.

* e nem era fantasia. Os caras eram mesmo pilotos da marinha!!! uhuuuu!!! Mais, eu não conto.
** Ando meio ocupada e por isso não tenho escrito. Para dar uma movimentada no blog, resolvi ressuscitar este post, que é bem antigo.

Pior do que mulher de malandro

Existe um tipo de mulher que sofre muito mais do que as namoradas dos piores cafajestes: as namoradas dos super-heróis. Acabei de ver Hulk. Pobres mocinhas. Deus que me livre. É angústia sem fim.
Para comemorar o Dia do Mídia, a OMNI organizou um inusitado passeio de escuna pela baía de Vitória. Foi a comemoração mais original e gostosa da época. E o que eu estava fazendo lá, já que era para os mídias? Bem... cof, cof... eu sou uma pessoa muito bem relacionada (valeu, Gabriela!). Mas então, como eu ia dizendo, a manhã estava linda, o céu azul, o mar calmo e tinha uma turma ansiosa por apreciar a cidade de um novo ângulo.

Saímos da Ilha do Boi – reduto dos bem nascidos –, que foi contornada, e deslizamos pelas águas profundas e acolhedoras que separam Vila Velha de Vitória. Passamos em frente ao Morro do Moreno, sob a 3ª Ponte, aos pés do Convento da Penha e fomos em direção ao Centro da capital. Navegamos em frente ao Penedo e paramos no Museu Ferroviário. Vi muitas embarcações no decorrer do percurso: grandes navios ancorados no porto, lanchas, caiaques, pescadores e até uma pessoa que estava mergulhando – com todos os apetrechos – em frente a uma cabana espremida entre o mar e algumas árvores.

Enquanto a escuna avançava, minha lembrança voltava anos para refazer o mesmo caminho quando eu era adolescente e ia ao Centro. Era lá que a cidade fervia e eu nunca ia de ônibus. Preferia sempre pegar a barca, que saía da Prainha, em Vila Velha, perto do Convento. Além de chegar mais rápido, o transporte marítimo ainda oferecia uma paisagem maravilhosa e inspiradora. Como era bom sentir o ventinho no rosto, o cheirinho de maresia, o balanço e o som que só o mar oferece.

Mas o inevitável aconteceu. Vitória cresceu muito, o Centro deixou de ser o centro das atenções e ficou decadente; os municípios foram interligados pelo sistema Transcol de ônibus; a 3ª Ponte foi terminada e o sistema aquaviário, totalmente menosprezado, afundou. Um absurdo, já que nossa capital é uma ilha de águas calmas e perfeitas para serem usadas como plataforma natural. O trânsito está cada vez mais estressante. Só para ter uma idéia, quem sai do Centro e vai a Paul de ônibus no horário de pico, pode demorar 1 hora. De carro, uns 40 minutos. De catraia, menos de 10 minutos. Se eu tivesse que fazer esse percurso, juro que compraria até um violão para fazer par com o tio do barquinho.

Graças a Deus eu moro e trabalho em Vila Velha e, como boa nativa, conheço várias rotas de fuga pra escapar das avenidas iluminadas pelas lanterninhas vermelhas enfileiradas que, na hora do rush, acendem e apagam mais do que luzes de Natal.

Mas isso pode mudar. Foi com grande alegria que soube do provável retorno das lanchas em grande estilo, com integração ao Transcol, paradas em quase toda a ilha e ligação com os municípios vizinhos. Espero muito em breve poder passar mais vezes sob a 3ª Ponte do que sobre ela.













A Taça do Mundo é Nossa

Se o Dr. Brown parasse hoje com o DeLorean na minha porta e eu pudesse viajar no tempo, com certeza voltaria 50 anos para ver de perto os jogos da Copa de 1958. Estou com ela na minha cabeça desde a semana passada, quando o JN fez uma série de reportagens especiais sobre a façanha dos brasileiros na Suécia.

O fato é que eu cresci ouvindo meu avô descrever as maravilhas daquela seleção, a 1ª conquistar a Taça do Mundo de Futebol. De como o Brasil arrasou os gringos e exorcizou a derrota de 50, num Maracanã lotado e silencioso. Quando quando Pelé e Garrincha estavam em campo, nunca perdemos um só jogo.

E que mané Pelé. O maior ídolo de vovô era Mané Garrincha. O jogador das pernas tortas, uma 6 cm mais curta do que a outra. O ponta que sambava com a bola nos pés gingando tão despreocupadamente que tirava o sono e o rebolado dos zagueiros adversários. Claro que ele também adorava Pelé, o moleque que fez um dos gols mais lindos da história das Copas, quando matou a bola no peito dentro da pequena área e meteu na rede, indefensável para o goleiro atônito. Meu avô venerava aquele time, mais ainda do que as seleções de 1962 e 1970. A primeira Jules a gente nunca esquece, não é?

Eu passei anos achando que nunca veria nossos canarinhos voando com a Taça para casa. Ainda bem que estava errada. Eu vi, gostei e quero ver de novo. Mas o que tenho realmente vontade de apreciar é o surgimento de um novo Garrincha. Outro brasileiro que cumpra dignamente, com a nossa camisa, as promessas feitas com os pés. Outro puta craque que faça mais do que 1 pra lá e 2 pra cá, e que não se deixe cegar pelo egoísmo da fominhagem. Mas, se acontecer, que resulte num belo gol pra calar minha boca. Quero ver um fenômeno verdadeiro, arrebatador, irresistível, raçudo, que não amarele junto com a camisa frente às grandes decisões. Quero um jogador que inspire meus futuros netos a escreverem sobre ele de maneira apaixonada, mesmo achando que impedimento seja a falta de talento para arrasar em campo.

Garrincha - alguns dribles

"De onde apareceu esse cara? Contrata logo, senão nunca mais vou poder dormir sossegado."
Nilton Santos, considerado o maior lateral-esquerdo do futebol brasileiro, à revista Placar, junho de 1992, sobre o que teria falado logo após Garrincha passar a bola por entre as suas pernas, no 1º treino do jogador no Botafogo. O técnico era Gentil Cardoso.

"Foram os 3 minutos mais fantásticos da história do futebol e a mais assombrosa aparição na ponta-direita desde Stanley Matthews."
Gabriel Hannot, sobre o início da partida contra a União Soviética, na Copa de 1958, na qual se tornaram titulares Pelé e Garrincha, que fariam uma sequência de brilhantes jogadas que culminaram com o gol de Vavá. Revista Placar 1072, de Junho de 1992.

"Se ele é considerado meio burro, não posso fazer a menor idéia do que, para os brasileiros, é ser inteligente."
Cronista esportivo de Londres. Revista Placar 1072, de junho de 1992.

"De que planeta viene Garrincha?"
Jornal chileno El Mercúrio. Revista Placar 1072, de junho de 1992.

"Em 50 anos de futebol, jamais apareceu um jogador como ele"
Jornal inglês Daily Mirror. Revista Placar 1072, de junho de 1992.

"Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios."
Carlos Drummond de Andrade, sobre a forma como Garrincha jogava.

Com a palavra: companheiros e adversários

"Um Pelé você vai ver nascer de novo. Um Garrincha, nunca mais". - Gérson.

Garrincha - um pouco da história

A grande preocupação dos zagueiros que tentavam parar Garrincha não era fracassar nessa função. Era ser humilhado publicamente com algum drible desconcertante.

Seleção precursora de campeões


Garrincha
Tcheco, inglês ou espanhol. Não importava a nacionalidade do marcador. Para Garrincha (1933-1983), todos eram apenas "joãos". Essa postura não indicava, em absoluto, um traço de arrogância no caráter de um dos maiores jogadores da história do futebol mundial: ele encarava com a mesma postura todos os seus rivais, fossem eles estrelas de suas seleções ou apenas anônimos "beques" de times de várzea de Pau Grande.

Se Pelé personificava a eficiência máxima num jogador de futebol, levando-se em conta o talento e preparo físico, Garrincha é o maior representante do "futebol moleque", em que um drible humilhante provocava entre os torcedores uma euforia até maior do que um gol. Enquanto Pelé é o 1º representante e símbolo do profissionalismo no futebol brasileiro, Garrincha é o retrato da "época romântica".

Ironicamente, a Seleção Brasileira nunca foi derrotada em partidas em que 2 atuaram juntos. Apesar das pernas tortas (a direita para fora e a esquerda para dentro, 6 centímetros maior do que a outra), em sua melhor fase não havia zagueiro capaz de marcá-lo. Nem mesmo Nilton Santos, conhecido como a "Enciclopédia do Futebol" – o homem que abriu as portas do Botafogo para o ponta-direita – conseguiu detê-lo.

Depois de ter sido dispensado nas peneiras de Fluminense, Vasco e São Cristóvão, já que era considerado "torto" pelos treinadores, Mané fez um teste no alvinegro, em 1953. Na 1ª jogada, meteu a bola entre as pernas de Nílton, que saiu de campo e pediu a contratação imediata do atacante. "Melhor jogar com ele do que contra ele", afirmou Nilton Santos na época.

No Botafogo e na Seleção, Garrincha viveu seus melhores momentos entre 1958 e 1962. Era a época em que o alvinegro carioca dividia com o Santos de Pelé a maioria das vagas na Seleção. Convocado para a Copa de 1958, Garrincha começou a competição na reserva do flamenguista Joel. Na 3ª partida, os próprios atletas pediram sua escalação: eles sabiam o estrago que Mané poderia provocar numa defesa cheia de "joãos" europeus.

Titular nos treinos durante toda a preparação, ele foi sacado contra a Áustria porque temia-se o meio-campo de 4 jogadores do rival. 1 disciplinado e aplicado Joel foi escalado para compor o meio com Dino, Didi e Zagalo.

No 2º jogo, novamente Garrincha estava fora. Desta vez por outro motivo. A notícia que o lateral-esquerdo inglês Slater era desleal e tinha lesionado já 2 rivais na temporada fez o técnico Vicente Feola tirá-lo de novo da equipe. Garrincha, porém, não entendeu a situação e chegou a pedir para ser dispensado. Mazzola confirma seu jeito de ser: "Garrincha era o mais direto de todos no grupo. Falava o que pensava e não se importava."
Tudo mudou de figura com a partida contra a URSS. Para enfrentar o chamado "futebol científico" dos soviéticos, de muito preparo físico e do ouro olímpico em 1956, entrariam Pelé e Garrincha.


Com fama de ter um "futebol de laboratório", os soviéticos diziam saber como parar o Brasil. Já que nos 3 primeiros minutos de jogo Garrincha já havia humilhado várias vezes a defesa adversária, mandado uma bola na trave e criando a jogada para o 1º gol de Vavá.

O botafoguense foi logo mostrando seus dribles acrobáticos: com 25 segundos de jogo já tinha aplicado alguns deles nos marcadores Kuznetzov, Krijveski e Voinov, e mandado uma bola na trave. O Brasil ganhou por 2 a 0, com 18 chances de gol e Garrincha como o melhor em campo. "Eu estava com fome de bola", resumiu o ponta. No dia seguinte, os jornais de todo mundo se perguntavam como aquele jogador não tinha disputado os 2 primeiros jogos, com títulos como "O melhor reserva do mundo".Para as quartas-de-final, diante do País de Gales, o pai de Garrincha foi convidado para acompanhar o jogo no gabinete do presidente Juscelino Kubitschek.

Frente a França, pelas semifinais, Garrincha driblou 3 para fazer o 1º gol brasileiro na vitória por 5 x 2. Nesse jogo, sua vítima foi o defensor Lerond. Na decisão, a anfitriã Suécia abriu o placar, mas, graças a 2 cruzamentos de Garrincha para Vavá, o Brasil virou e acabou vencedor com 5 a 2.

Mas a verdadeira Copa de Garrincha foi a de 1962, no Chile. A Seleção tinha perdido Pelé na 2ª partida e precisava vencer os favoritos espanhóis para continuar na briga. Garrincha, que tantos chamavam de irresponsável, assumiu o comando do time. Graças a ele, Amarildo marcou os gols da vitória contra a Espanha, que colocaram o Brasil nas quartas-de-final. Depois, só deu Mané.

Nas quartas-de-final, contra os ingleses, e na semifinal, contra os chilenos, ele fez de tudo: jogou pelo meio, marcou gols de cabeça, gol de falta e até de perna esquerda. Foi expulso, inclusive: aplicou um cômico chute no traseiro do lateral chileno Rojas, que o marcava a pontapés e agarrões. Após uma manobra dos dirigentes brasileiros, o ponta-direita foi liberado para jogar a finalíssima contra a Checoslováquia, com 39 graus de febre.

Mas sua presença foi o bastante para manter a defesa checa acuada e garantir a conquista do bi. Ao voltar da Copa, Garrincha ainda brilhou na campanha que deu ao Botafogo o título de bicampeão carioca, em 1962. Na final, contra o Flamengo, ele marcou 2 gols e deu 1, de bandeja, a Quarentinha, transformando-se no principal articulador do sonoro 3 x 0. Esse foi, inclusive, o último grande jogo de Garrincha.

Depois dessa partida, infelizmente, transformou-se apenas numa caricatura do craque de outrora. Em 1963, a carreira de Mané entrou em declínio. Problemas nos joelhos começaram a prejudicar os dribles geniais. Para manter o atleta em campo e embolsar gordas cotas de amistosos, os médicos do Botafogo aplicavam sucessivas infiltrações nos joelhos do ponta-direita.

Quando a equipe carioca já havia "sugado" tudo o que podia de Garrincha, negociou o atleta com o Corinthians, no início de 1966. Porém, ele fez poucos jogos pela equipe paulista.

Em 1966, despediu-se da Seleção Brasileira na fracassada campanha da Copa do Mundo na Inglaterra. Mesmo sem condições físicas ideais, foi imposto no time por João Havelange, então presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Mas deixou sua marca com um belo gol de falta na partida de estréia, contra a Bulgária, em que o Brasil mesclou 2 gerações: a Seleção contava com Garrincha e com o futuro furacão da Copa de 70, Jairzinho.

Em 1968, foi dispensado pelo Atlético Junior, da Colômbia, depois de 1 única partida e contratado pelo Flamengo, onde não permaneceu 3 meses. Encerrou a carreira em 1972, depois de uns poucos jogos pelo Olaria. Além das contusões, um mal maior já tinha consumido o craque: o alcoolismo. Foi ele o responsável, 1983, pela morte prematura do craque que enlouqueceu estádios e entrou para a história como o maior ponta de todos os tempos do futebol mundial. E um de seus maiores fenômenos.

Pelé
Com 12 gols, 3 títulos e atuações memoráveis em 4 Copas seguidas, Pelé alcançou um patamar inatingível para seus compatriotas como o melhor jogador da história da seleção brasileira. O "reinado" do jogador de Três Corações começou em 1958, quando o garoto Édson Arantes do Nascimento tinha apenas 17 anos.

No Mundial da Suécia, a revelação do Santos assombrou o mundo com golaços e técnica incrível. 4 anos depois, Pelé ganhou sua 2ª Copa, no Chile, mas viu tudo de fora dos campos, pois saiu lesionado do time brasileiro ainda na 1ª fase.

Em 1966, na pior participação da seleção pós-58 (eliminada na 1ª fase), Pelé foi caçado por marcadores portugueses e novamente acabou a Copa lesionado.

Mas a redenção viria em 1970, quando Pelé liderou o que para muitos especialistas foi o melhor time da história do futebol. No Mundial do México, o ídolo voltou a protagonizar lances de rara beleza plástica e ganhou de forma brilhante o tricampeonato. Os estádios Jalisco e Azteca viram o "Rei" no auge da forma.

Entre os lances da Copa de 1970 que entraram para o folclore do futebol, destaca-se a jogada em que Pelé venceu o goleiro uruguaio Mazurkiewicz com um "drible da vaca", a cabeçada potente para a defesa incrível do inglês Gordon Banks e a tentativa de gol do meio do campo contra a Techoslováquia.

Maior artilheiro da história da seleção, com 95 gols em 115 jogos, Pelé tem currículo vencedor no futebol que transcende sua passagem pelo Brasil. No Santos, clube que defendeu por quase 20 anos, o jogador brilhou em uma época em que a televisão não registrava todos os passos de um ídolo, como hoje em dia.

O mundo não viu, por exemplo, o gol que o próprio Pelé considera como o mais belo de sua carreira. Numa vitória do Santos sobre o Juventus pelo Campeonato Paulista de 1959, o "Rei" se livrou de vários marcadores com toques por cima das cabeça e, sem deixar a bola cair, empurrou para as redes.

Pelo Santos, Pelé conquistou o Campeonato Paulista 10 vezes. O jogador também liderou a equipe em 5 títulos da Taça Brasil, 4 do Rio-São Paulo, 2 Libertadores e 2 Mundiais Interclubes.

Depois do reinado no Santos, Pelé ainda desbravou o futebol na 1ª incursão de profissionalismo do esporte mais popular do mundo nos Estados Unidos. O brasileiro vestiu a camisa do NY Cosmos, onde conquistou o último título de sua carreira, em 1977.

1 ano depois da brilhante conquista na Copa do México, Pelé deixou oficialmente a seleção em 1971, num empate contra a ex-Iugoslávia no Maracanã, diante de 138.575 torcedores. Na "volta olímpica" para se despedir de seus súditos, o maior jogador do país chorou ao escutar o coro popular: "fica, fica".

Pelé foi eleito recentemente pela Fifa o maior jogador do século 20, ao lado do ex-desafeto argentino Diego Maradona. A paz com o antigo rival foi selada no ano passado, quando a estrela brasileira concedeu entrevista no programa "La Noche del 10", apresentada pelo ídolo do Boca Juniors.

O ex-jogador da seleção brasileira também desempenhou o cargo de ministro dos Esportes, na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Hoje fora da vida pública, Pelé segue presente nos principais eventos do futebol mundial, como no sorteio da Copa, em que foi uma das principais atrações.

Zagallo
Ele não parava em campo, e por causa dessa mobilidade Zagallo sempre foi comparado a uma formiguinha. Ponta-esquerda habilidoso, destacava-se pela presença no meio-campo, onde jogando para o time, e nem sempre para a torcida, escreveu seu nome na história do futebol brasileiro.


Foi no Flamengo tricampeão carioca de 1953, 1954 e 1955 que Zagallo começou a desenvolver seu estilo: o ponta-esquerda tático, recuando para ajudar na marcação. Pudera: em um time que tinha Dequinha, Moacir e Dida, ataque não era problema. Cuidando da marcação, o ponta garantia a subida dos craques e, de quebra, um lugar importante no time. Os técnicos o adoravam. Na Copa de 1958, seu futebol disciplinado foi titular, enquanto Pepe, o "Canhão da Vila", teve de assistir ao Mundial no banco de reservas.

Isso porque Pepe se contundiu pouco antes do início da competição. Mas se a escalação de Zagallo foi uma decepção para os fãs do ponta santista, ela assegurou liberdade a Pelé e Didi no ataque.

No Mundial do Chile, lá estava ele de novo, criando e destruindo jogadas e marcando um gol. Quando a Copa terminou, os jornais estampavam as fotos de Zagalo chorando. Foi só coração em todas as partidas. Três anos depois, aos 34 anos, abandonou os gramados.

O nome de Zagallo já estava para sempre registrado na história do futebol brasileiro. Mas ele deixou os gramados para atuar como técnico, e a sua estrela continuou brilhando. Comandou o escrete tricampeão no México, em 1970, e teve participação importante na conquista do tetra, como auxiliar de Carlos Alberto Parreira.

Nilton Santos
Era atacante. Caprichava nos chutes, driblava, fazia gols. Foi parar na defesa por acaso porque, em 1948, quando chegou ao Botafogo-RJ, Zezé Moreira descobriu que ele também sabia marcar. Jogou - e bem - em várias posições da zaga e ajudou o alvinegro a sagrar-se campeão carioca de 1948, quebrando uma longa hegemonia do Vasco. Na Seleção Brasileira que conquistou o Campeonato Sul-Americano de 1949, virou lateral-esquerdo.

Mas Nílton gostava de atacar. E se isso hoje chega a ser uma exigência para um lateral vencer na vida, naquele tempo era considerado, no mínimo, um ato de irresponsabilidade. Não foram poucas as vezes em que ele topou com as desconfianças de um treinador por não se comportar como um mero marcador de pontas.

Por esse pecado, ficou na reserva da Seleção de Flávio Costa, que perdeu a Copa do Mundo no Maracanã, em 1950. Assistiu à tragédia brasileira do banco. Em 1954, porém, Nílton foi para a Suíça como titular. Nunca mais perdeu a posição, pelo menos em Mundiais. Esteve presente em todas as partidas das Copas da Suécia e do Chile, na campanha do bi.

É verdade que, em 1958, Vicente Feola ainda faria uma tentativa de substituí-lo por Oreco, um lateral mais pegador. Mas a classe e a visão de jogo do craque acabaram prevalecendo. Mesmo com os sustos que ele dava no técnico. Na estréia do Brasil contra a Áustria, a Seleção vencia por 1 x 0 quando Nílton Santos apanhou uma bola na esquerda, subiu ao ataque e, depois de tabelar com um atônito Mazzola, disparou para marcar o segundo gol do Brasil.

No Botafogo-RJ -único clube que defendeu-, jogando como quarto-zagueiro, formou ao lado de Didi, Garrincha, Amarildo e Zagallo a equipe bicampeã carioca de 1961 e 1962 e do Torneio Rio São Paulo de 1962 e 1964, uma das melhores do Brasil em todos os tempos. Considerado por muitos o melhor lateral que o mundo viu jogar, recebeu o apelido de Enciclopédia do Futebol. Abandonou a carreira em 1964, aos 39 anos, sem deixar dúvidas de que, de fato, conhecia todos os segredos da bola. De A a Z.

Gilmar
No início de 1951, o Corinthians anunciou com alarde a compra de um centro-médio do Jabaquara de Santos: Ciciá. De quebra, só para complementar o negócio, veio também um goleiro, Gilmar dos Santos Neves. Ciciá, como centenas de outros jogadores, passou. Gilmar, não.


Com a camisa do Corinthians, da seleção brasileira e depois do Santos, ele se transformaria em um dos melhores goleiros - para muitos, o melhor - que o país já teve. Consagrado como o dono absoluto da camisa 1 alvinegra, ele chegou a titular da seleção brasileira que, em 1958, conquistou o seu primeiro título mundial na Suécia. Titular absoluto nas duas primeiras conquistas mundias do Brasil, em 1958 e 1962, ele era símbolo de segurança lá atrás, enquanto gênios como Pelé, Garrincha e Vavá garantiam os gols lá na frente.

Djalma Santos
Queria mesmo era ser piloto de avião. Já o pai, soldado da antiga Força Pública paulista, preferia que ele seguisse a carreira militar. Até que um dia, vendo o filho jogar no Internacional (um clube de várzea do bairro paulistano da Parada Inglesa), convenceu-se de que o destino dele era outro. Djalma Santos havia nascido para ser jogador de futebol.

Djalma chegou a fazer testes no Ypiranga e no Corinthians. Mas os horários dos treinos eram incompatíveis com o de seu trabalho como sapateiro. Só ficou na Portuguesa porque o patrão concordou que ele trabalhasse à noite, para compensar as horas perdidas no clube.

Uma de suas jogadas características era a cobrança dos arremessos laterais com força, para dentro da área, onde havia sempre um companheiro em boa posição para o arremate.

Foi titular em apenas uma partida - a final, contra os donos da casa, vencida pelo Brasil por 5 x 2 -, substituindo De Sordi, que passara mal. O suficiente para ser considerado o melhor jogador da posição naquele Mundial. Na Copa seguinte, no Chile, em 1962 (quando já era jogador do Palmeiras), Djalma Santos se sagraria bicampeão mundial. Jogaria mais uma Copa, a da Inglaterra, em 1966, e disputaria 100 jogos.

Orlando
Aos 23 anos, Orlando apresentou na Suécia um estilo que mesclava firmeza e elegância – características que vinham desde as categorias de base. Orlando foi titular da seleção brasileira nos seis jogos da Copa de 1958 e disputou um total de 34 jogos. Sofreu apenas uma derrota com a camisa canarinho e nunca marcou um gol.


Em clubes, Orlando acumulou títulos por onde passou. Começou no Vasco em 1955 e, aos 20 anos, logo assumiu a posição de titular. Seu futebol é lembrado pelo vigor físico, que impunha respeito sem o uso de violência. Tinha uma ótima antecipação e uma marcação precisa.

Bellini (Capitão)
Naquele ano de 1958, não poderia haver honra maior para um brasileiro. Bellini foi o primeiro a segurar a taça Jules Rimet. A cena ficou eternizada na mente dos torcedores e marcou o início da dominação do futebol do Brasil no cenário mundial.


Bellini não tinha muita técnica. Era um típico zagueiro: raçudo, viril. Impunha-se mais pela presença e pelo jogo sério do que pela categoria, mas nunca precisou de violência para barrar atacantes. Por isso a torcida confiava nele. Com Bellini na área, não havia susto.

No 0 x 0 contra a Inglaterra, a partida mais difícil do Brasil naquela Copa, o atacante Mazzola perdeu um gol feito, entrou em pânico e começou a chorar. Bellini não teve dúvida: saiu lá de trás e, com um tabefe regenerador, repôs o companheiro no jogo.


Grande zagueiro e grande capitão, Bellini, no entanto, sempre foi mais lembrado pelo gesto que inventou ao receber a Jules Rimet. Com as duas mãos, ele ergueu o troféu acima da cabeça. Desde então, tem sido imitado pelos capitães de todas as seleções campeãs do mundo.

Didi
Didi (1929-2001) pode ser definido pelos dois apelidos que ganhou do escritor Nelson Rodrigues. Era o "Príncipe Etíope", pela rara elegância, beleza e frieza de seu jogo, e a "Mãe dos Pernas-de-Pau", porque com seus passes longos, precisos e geniais transformava atacantes comuns em goleadores implacáveis. Já para a imprensa internacional, Didi, jogador cerebral, cérebro das equipes, era "Mr. Football".

Foi durante as eliminatórias da Copa de Mundo de 1958, que o meia virou ídolo nacional. Faltavam 9 minutos para acabar o jogo contra o Peru, no Maracanã. Persistindo o 0 x 0, a vaga iria para sorteio. Didi cobrou uma falta para o Brasil. Quando o goleiro já via a bola ir passando por cima do travessão, ela caiu de repente, dentro do gol.

Era a "folha-seca", um chute cheio de efeito com a marca registrada de Didi. Depois, veio a consagração internacional. Titular absoluto e líder incontestável da seleção brasileira que venceu o mundial da Suécia, em meio a feras como Pelé, Garrincha e Zito, Didi foi apontado por muitos como o melhor jogador da Copa.

Foi o maestro da conquista do bi carioca em 1961 e 1962 e, mais uma vez, brilhou aos olhos do mundo na seleção nacional que voltou com o caneco do Chile, em 1962.

Zito
Na seleção brasileira, Zito estreou em 1956, pelas mãos do técnico Oswaldo Brandão. Seria bicampeão mundial, em 1958 e 1962, e também participaria da Copa do Mundo de 1966.


Em 1958, na Copa da Suécia, Zito foi convocado por para ser reserva do volante Dino Sani. Com a contusão de Dino, Zito assumiu a vaga de titular. A partir do jogo contra a URSS, o santista entrou no time e não saiu mais.

Seu único gol pela seleção foi na Copa de 1962, contra a antiga Tchecoslováquia. Depois de receber um cruzamento de Amarildo, Zito cabeceou direto para o gol. A partida foi vencida pelo Brasil por 3 a 1.

Zito se notabilizou por sua capacidade de organização e pelo exercício de comando dentro de campo. Quando preciso, dava duras broncas até em Pelé, mesmo quando o Rei do Futebol já era famoso.

Nunca foi um grande lançador, nem tinha um chute forte. Embora tenha entrado para a história como um extraordinário desarmador, Zito foi um craque completo, que também sabia criar jogadas.

Vavá
Vavá (1934-2002) ficou conhecido como um atacante raçudo que trombava com os zagueiros por pura fome de gol, mas, na verdade, ele veio do Sport Recife para o Vasco, em 1952, como um meia-armador de boa técnica. Foi Gentil Cardoso, então treinador da equipe carioca, que o transformou em centroavante.


Convocado para a Copa da Suécia, começou a competição na reserva de Mazzola. Por exigência dos titulares, entrou no 2º jogo e, apesar de só ter atuado em 4 das 6 partidas que o Brasil disputou, terminou o mundial com 5 gols. Fez mais: mostrou tanta fibra diante da violência dos zagueiros adversários que saiu consagrado como símbolo da bravura do Brasil campeão.

Em 1962, na campanha do bicampeonato no Chile, foi titular absoluto e teve, novamente, participação decisiva nas vitórias da seleção. Foi um dos artilheiros da competição, com 4 gols.

Seleção de 1958: deu muito o que falar.

"Crioulo burro! A cabeça é para um lado, a bola pro outro”
de Zito para Pelé que, inicialmente, também era enganado pelo drible do companheiro.

"Garrincha é um verdadeiro assombro. É um jogador como jamais vi igual."
Gavril Katchalin, técnico da União Soviética, após a derrota para o Brasil por 2 a 0

"Vamos lá, acabou a moleza, vamos encher esses gringos de gols”
Didi, após o Brasil sofrer o primeiro gol, na final.

"Chegou a sua vez, negão"
Dos companheiros Bellini e Didi para Djalma Santos, que substituiu De Sordi na decisão contra os suecos.

"A seleção brasileira era tão boa que eu temia começar a torcer por ela"
George Raynor, técnico da Suécia, adversária do Brasil na final.

"Campeonatinho mixuruco, nem tem 2º turno!”
Garrincha durante a comemoração da conquista da Copa do Mundo em 58.

"Eu fazia um lançamento e tinha vontade de rir. O Mané ia passando e deixando os homens de bunda no chão. Em fila, disciplinadamente".
Didi, sobre as atuações de Garrincha.

"Após o 5º gol, eu queria era aplaudi-lo"
Sigge Parling, zagueiro sueco que marcou Pelé no jogo final.

"Eles eram infernais. Ninguém os conteria. Se você marcasse o Pelé, Garrincha escapava e vice-versa. Se você marcasse os dois, o Vavá entraria e faria o gol. Eles eram endemoniados".
Just Fontaine, francês artilheiro da Copa, sobre a seleção.

"O Gilmar é o maior goleiro do mundo"
Lev Iashin, da União Soviética, considerado por muitos o melhor goleiro de todos os tempos.

"Vem aqui, king, falta mais um!"
Mário Trigo, dentista da seleção, em bom português, antes de abraçar o rei Gustavo Adolfo da Suécia após a final.

Relembrando a Copa de 1958