
Até uma tempestade que deixava a rua no escuro virava uma festa, quando não ia passar um programa bacana na TV, claro. Era só começar a sucessão de raios e trovões para separar algumas velas e esperar a luz ir embora. A partir daí, entrava em cena a imaginação que transformava as mãos em pássaros, coelhinhos, aranhas, cachorros e outros seres que, graças a Deus, não existem.
A chuva só não era bem-vinda quando ameaçava estragar passeios ao Parque Moscoso ou algum piquenique. Mas isso era fácil de resolver. As crianças envolvidas tinham a missão de desenhar um sol na calçada para o astro rei mandar as nuvens pro espaço. Se o passeio fosse no final de semana e o tempo estava cinzento, a gente desenhava todos os dias, por precaução. Havia também uma coisinha que eu amava fazer na chuva, e já não era mais criança: beijar. Nossa, beijar na chuva é TUDO. Acho que a saliva misturada com a chuva torna os movimentos da boca e língua mais sensuais, sei lá. Só beijando pra sentir. Mas preste atenção: tem que ser na chuva. Água do chuveiro não vale. Acaba de me ocorrer uma idéia. Se o beijo é bom, imagino então como seria um vucu-vucu enquanto São Pedro lava a casa. Ui! Aí, a gente cresce, fica mais racional, ponderado e chato. Diz que uma chuvinha é boa pra abaixar a poeira e, ao mesmo tempo, reza pra não inundar a cidade. Compra uma sombrinha pequena pra levar sempre dentro da bolsa, mesmo com um céu azul, pra não correr o risco de estragar o cabelo ou pegar um resfriado. Pelo menos o gosto pelo beijo encharcado eu ainda não perdi.
4 comentários:
e se eu desenhar as gotas de chuva na calçada, vai chover pra eu tomar um banho e beijar? sinto tanta falta. tá lindo o texto.
*não tenho pique pra acompanhar esse blog. rs
beijos
Ahhhhh eu adoro chuva té hoje viu!
De madrugada então eu levanto da cama abro a janela...a diferença é que hoje acendo um cigarro, ou fico pensando besteira...mas ainda amo sentir a chuva!!
Gosto do cheiro dela...a vida é sempre tão corrida quando a gente cresce, que parece que não sobre tempo para gostar..mas basta chover para eu respirar fundo...várias vezes eu corro até a janela para sentir o cheiro dela em contato com o chão...muito bom...texto lindo...adorei. Beijos.
Rafa Mattos
Meus olhinhos encheram de lagrimas....
eita saudade dos amassos molhados em que o frio da barriga se confundia com o frio da chuva...
muito bom...
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