Domingo último eu passei um tremendo sufoco em Vitória. Fui visitar o meu amigo Fernando, que virou carioca, e saí da casa dele debaixo de uma chuva torrencial que inundou avenidas, alagou bairros e me deixou apavorada ao perceber que não conseguiria voltar pra casa tão cedo porque meu corsinha sedan infelizmente não existe na versão anfíbio. Depois de cruzar vários pontos críticos, atravessar canteiros e quase ser atropelada por um caminhão caindo aos pedaços, consegui chegar muito perto da 3ª Ponte. O problema é que esses poucos metros tinham virado, praticamente, um mar. Via a hora de Noé passar por ali oferecendo carona. O jeito foi achar um lugar seguro, desligar o carro e esperar a água baixar. Já eram quase 22h quando me toquei que uma amiga morava na área e fiquei toda contentinha. Era só ligar pra ela, deixar o carro onde estava e dormir por lá. Uma idéia genial! Liguei. Chamou, chamou e nada, nada. Ninguém atendia o bendito telefone. Depois de muita luta, ela acabou me ligando no celular.
- Gisele! Graças a Deus! Tô aqui pertinho da sua casa, ilhada. E essa água não vai descer tão cedo. Posso dormir aí?
- Anna, pode. Se eu conseguir chegar em casa.
- Não vai me dizer que você está na rua?
- Tô aqui perto do Boulevard.
- PQP! Então volta no mesmo pé porque você não vai conseguir chegar em casa nunca. O negócio tá feio!
Ela voltou pra casa da sogra e eu fiquei arrasada com a situação. Meia-noite era pouco pra eu conseguir chegar em casa. Aí comecei a conversar com um casal muito simpático que estava do meu lado. Eram engraçados e isso ajudou o tempo passar. Eles estavam tendo um briga divertida porque ela não queria ter saído de casa aquele dia e ele perturbou tanto as idéias dela, que ela acabou indo. Depois de muito tempo sentados contando causos, eu lembrei de perguntar os nomes deles. Não acreditei quando ouvi a resposta dele à minha pergunta. Só podia ser um aviso. Na mesma hora eu falei:
- Gente, vamos tentar voltar e pegar a Av. Leitão da Silva? Eu acho que a água daquele cruzamento já baixou.
- Será? Tava meio feio.
- Mas se tiver baixado mais, a gente atravessa e pega a Beira Mar. É só um pedacinho!
Depois de muita ponderação, resolvemos ir. Realmente não era mais um Oceano Atlântico. Já tava mais pro Amazonas, e sem a pororoca. Eles pararam o carro do meu lado e achamos melhor esperar alguma cobaia atravessar primeiro. E não é que um Voyage conseguiu chegar ao semáforo? Passamos também e paramos do outro lado. Chamei um guardinha que apitava histericamente.
- Ei! Ei! Depois desse pedaço tem mais alagamentos?
- Não. SE a moça (adorei o moça) conseguir passar, vai ser fácil chegar à 3ª Ponte. Mas SE conseguir. A moça é que decide.
Fiquei insegura. A tal parte alagada me pareceu muito mais ameaçadora depois de tantos SÉS que o tarado do apito falou. Pensei que SE o carro parasse, ia morrer numa grana na oficina, que nem acabei de pagar o último serviço. Eu ainda estava com cara de interrogação quando ouvi a buzina do carro do casal.
Ele: E aí, vão?
Eu: ...
Ele: Vamos. A gente vai conseguir.
Eu: Vamos...
Ele: Quem vai na frente?
Eu: Vocês, claro!
Graça riu.
Ele (rindo): E por que?
Eu: 1º que eu tô num Corsinha 1.0 e vocês estão num Corolla. 2º que com esse nome, você tem que ir é na frente mesmo!
Eles gargalharam e foram. Quando mergulharam no alagado eu vi no que ia me meter. O Corolla tinha água pelo pára-choque. Engatei a 1ª, acreditando que o nome do cara era um sinal de que tudo ia dar certo e fui, acelerando. Quase imediatamente a água fez a luz do farol ficar mais fraca. No meio do caminho o carro engasgou 1 vez, 2 vezes; eu acelerei mais, rezando alto, agarrada ao volante:
- Me ajuda, Senhor! Me ajuda, Senhor! Me ajuda, Senhor! – até conseguir sair, graças a Deus.
Foram os 4 ou 5 metros mais longos de toda a minha existência. Mais à frente, vi o Corolla parado e o casal sorridente que torceu para o meu carro não morrer afogado, literalmente. Me despedi agradecendo a consideração e desejando uma boa volta para casa.
- Tchau, Anna. Vai com Deus.
- Tchau, vocês também!!!
E tenho muito o que agradecer a Ele por ter colocado aqueles 2 no meu caminho. Graça e Moisés. Moisés. Como não ia conseguir atravessar aquele mar com um sujeito chamado Moisés indo na frente? E tem gente que não acredita em sinal.
16 comentários:
nussa q saga... podemos dizer que entre mortos e feridos salvaram-se todos... ou quase todos rss beijos
Hahaha! Adorei o causo. :)
Oiê!
Caracasssss, que dia!
A cena,contada por vc,me pareceu engraçada(lembrei da lei de murphy.rs)...mas bem sei o sufoco que deves ter passado.E 'Ele' sempre providencial,enviou-te um Moisés...que bom!!
beijão.
Deve ser desesperador.... Ainda bem que Moisés apareceu.... rs
beijos
Re
bacana mesmo seu blog, kra, mto legal!!!
Putz, sinceramente, não sei se eu conseguiria atravessar o rio amazonas! Nem mesmo depois de ouvir que o cara se chama Moisés. Se bem que, como você mesma disse, sinais são enviados. Ah, e eu acredito em sinais!
beijos
hahahahahahaahaha.
o melhor post que li essa semana! adorei a história. e vc, sempre tirando prosa e poesia do dia a dia. bacana!
Tô imaginando vc tentando vender o rin pra alguém te ajudar; se bem que se te desse fome vc o comeria.rsrsrsrsrsrs
Nossa mas que aventuuraaa...
Ainda bem que tinah Moises la pra te dar uma forcinha hein..rsrs
BEijocas da Loira
Muito bom.
E vc contou direitinho... me deixou curiosa até o final.
beijos Anna!
Nossa, vivi o seu texto! É o mar vermelho da atualidade, não? A forma deliciosa como você escreve me aprisiona. Eu fico do tamanhinho das letras, e preciso pular, palavra por palavra, o texto inteiro, numa concentração imensa, e não consigo desviar a atenção.
Adorei, como de costume.
Beijos carinhosos! Muitos deles, tá? Todos do João
Vamos combinar: Vix é um lugar onde CHOVE feito gente grande!
bj
eita fiquei lendo e imaginando cada cena e o medão tb que vc deve ter passado.
Qualquer dia desses compraremos um jet-ski pros dias de urgencias como essa que estao se tornando muito comuns por aqui, né?
ngm merece!
Hahahaha!Super sinal mesmo!Até me arrepiei!rs!
Sensacional!...haha
bj
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