Santo Antônio - o conto do tal concurso

Este é o meu continho, um dos ganhadores do Concurso da Gato Sabido, em 2010. Em poucos toques, as angústias do Santo Casamenteiro.


Santo Antônio


A labirintite estava passando. Não tem Santo que aguente ficar pendurado tanto tempo de cabeça pra baixo. Antônio odeia esta época. Por que a mulherada acha que vai arrumar um namorado a poucos dias do famigerado 12 de junho, se passou o ano inteiro encalhada? Querem um milagre! Essa pressão ele tira de letra. O que não suporta mais é o método empregado: tortura, humilhação, seqüestro do Menino Jesus. Queria saber da onde veio o mito que esses maus tratos vão funcionar. Podia apostar a auréola que isso tem o dedo do Cupido. Desde o aparecimento do Casamenteiro na mídia, o Cupido perdeu credibilidade e passou a figurar somente anúncios publicitários. Sabia que o alado havia jurado vingança, mas não imaginava que ia partir pra ignorância. Então colocou uma velha idéia em prática. Como vivia carregando o filho Dele pra lá e pra cá, aproveitou o livre acesso e fez a solicitação. Queria o serzinho alado para ajudante e teve o pedido atendido. O Cupido virou a ponte direta entre o santo e as mulheres. Nada chegaria a Antônio se não passasse pelo asinhas. O Cupido nunca imaginou como as mulheres são criativas. Como não tem o Menino Jesus para seqüestrar, elas arrancam as asas, escondem a arpa e o colocam no congelador, sem o paninho branco da cintura. Se o Cupido achava que tinha chegado ao fundo do poço com os anúncios bregas, ele descobriu que nele existe um porão.

Sinal?

Agora mesmo estava conversando com uma amiga, Camila, sobre a dificuldade de engrenar um relacionamento legal, em que os dois lados estejam sinceramente envolvidos e dispostos a fazer dar certo. Ela concordou. Comentei que ando achando todo mundo tão louco e superficial ultimamente! A verdade é que estou desacreditada. Cada história que chega aos meus ouvidos é mais assustadora do que a outra. Cruz credo.

Aí, abri um site de e-books para tentar um contato. Já não entrava lá há muito tempo. A capa deste livro apareceu em letras berrantes. Eu, que acredito em sinais, fiquei um pouco passada.

Então, tá.

Cumuruxatiba

Cumuru.
Cumuruxiba.
Cumuruxatiba.
Vila de nome esquisito, que faz gringo enrolar a língua e enche os nativos de orgulho. Bucólica, afastada do mundo e da realidade. Fiquei fora da realidade.
Muito mais difícil do que a estrada, foi a hora de ir embora.

Mas os meus cabelos...

Eu tenho uma relação de amor e ódio com os meus cabelos. Nunca serei adepta da chapinha porque fico péssima com as madeixas no estilo vaca-lambeu. Isso sem contar que todo mundo tem cabelo liso. Tédio! Infelizmente, meus cachos são indecisos. Um dia eles estão lá, outros, nem dão as caras. E ainda tem os momentos Meu Nome É Gal, caso saia com os fios molhados ou tome um vento pela frente. Meus amigos sofrem comigo: “Meu cabelo tá bom? Fica melhor lá lá, ou pra cá?”.

Mas agora eu descobri como domar a fera. Com eles quase secos, prendo no estilo Princesa Léia, de Star Wars, e vou dormir. Ele fica menos arisco em cima e com os cachos naturais pra baixo. Na pior das hipóteses, ele fica jeitosinho.

Causo 1:
Pude comprovar o efeito Princesa Léia no sábado retrasado. Estava num barzinho com uns amigos e sentamos quase na rua, de tão cheio. Eis que chega um morador de rua, barbudo e todo rasgado:
- Eu vim aqui só pra perguntar qual o segredo de você ter um cabelo tão bonito.
Seguramos o riso pro cara não estacionar ali. Quando ele saiu, Karina, sempre ótima:
- Vai ficar sozinha porque quer!
- O trem é bom mesmo, heim, Hanna! O homi saiu lá do final da rua pra saber o segredo dos seus cabelos! - completou Carlos, morrendo de rir.

Causo 2:
A caminho de Paraty para o Festival da Cachaça, eu, Flávia, Carlos e Clarissa paramos num restaurante em Angra. Um mauricinho, até interessante, também almoçava por lá. Naquela madrugada, no final da festa, quando eu já tinha virado abóbora, eis que passa o mesmo cara, olha pra mim e fala:
- Você estava no restaurante em Angra!

Fiquei besta por ele ter se lembrando. Além de bêbado, mais cedo eu usava óculos escuros e outras roupas. Quando voltei pra casa, contei a história à amiga Gabi. E ela:
- Também, né, com esse cabelo!



Cri Cri Cri (grilos)



Nesta época, eu não fazia a Princesa Léia, então, não sei se o comentário foi bom, ou ruim.

Miranda, sem glamour.



Domingo eu vi O Diabo Veste Prada e fiquei inspirada pra falar sobre chefes escrotos. Quem nunca teve um carrasco assim que rasgue o primeiro contra-cheque. Eu só conheci este gostinho amargo há pouco tempo. Antes era igual ao “Rebelde Sem Causa” do Ultraje a Rigor. Só convivendo com gente decente e sem ter com quem me revoltar. Claro que chefe é chefe e sempre tem uma, ou outra coisinha a ser criticada (até por despeito e diversão), assim como eles também falam da gente. É a eterna briga de classes. Mas disso eu nunca pude me queixar, graças a Deus! Até aquela mulher cruzar o meu caminho. Sabe a vaca enfurecida que distribuiu coices e cabeçadas num shopping e apavorou a galera? É a minha ex-chefe. Cara de uma, cascos da outra. No 5º dia de trabalho ela me fez uma grosseria dos infernos que só não a mandei a puta-que-a-pariu, peguei minha bolsa e parti, porque tive medo de ficar desempregada.


Se eu não tivesse visto a mulher ferrar injustamente um cara que nem era subordinado a ela, entrar na sala dos outros gerentes berrando com quem quisesse, deixar pessoas falando sozinhas e fazer cara de nojo pra tudo, eu poderia jurar que o problema dela era comigo. Conversei com Gabi, uma amiga querida, sobre a grosseirona e ela, muito espiritualizada, falou pra eu parar de jogar energias negativas, que era pior.


- Faça assim. Quando você perceber que ela está nervosa, pense nela sendo envolvida lentamente por uma luz violeta, queimando todas as energias negativas.


- Tá bem.


Juro que estava cheia de boa vontade. A linda luz violeta começou a circulá-la devagar e sempre. Quando eu achava que estava dando certo, ela começou a berrar no telefone e a tonalidade mudou para vermelho escarlate e queimou tudo rapidamente, até dissipá-la em cinzas espalhadas pelo vento. E já foi tarde. Vou pedir demissão, pensei. Venderia flores na feira, mas ali, com ela, eu não continuaria mais. Depois de mim, entrou um cara que também ficou pouquíssimo tempo e saiu. O mais chocante era ver quase todo mundo tratando ela bem e metendo o pau por trás. Ela é odiada. Miranda Priestly, ao menos, tem mais talento, mais elegância, muito mais glamour e muito menos culotes. That's all.

O beijo não dado

Não havia mais nada. Nem caneca, nem água caindo, nem coração batendo. Esqueceu até de respirar. O frio na barriga congelou tudo. Só havia a mão na cintura e aquela boca se aproximando em câmera lenta, com um fundo musical imaginário do Sixpence None The Richer. O momento pedia um beijo doce. A boca prometia um beijo apimentado com puxão de cabelo e tudo mais. Diante do tal fogo que não poderia apagar, declinou, correndo, com as pernas bambas. Literalmente. A lembrança ao seu encalço. Boca. Não te provei. Mas aprovei.

2010. Idas, vindas, retornos, paradas e caminhadas.

O ano começou maravilhosamente bem e terminou cheio de promessas, cumpridas em março de 2011. O grande problema foram os meses que ligaram essas duas pontas. Das festas julinas à folia, minha vida profissional marcou 8,2 na escala Richter. Saí da agência que amava e cai na conversa de politicos “bonzinhos” (eleitos) que não mantiveram a palavra (que surpresa!) e mostraram a porta da rua para quem estava ralando de domingo a domingo e contando com a grana prometida. Bem-feito pra mim, que esqueci do princípio básico: político é igual a cafajeste: promete muito, mas, no fundo, só quer te foder.

Aí, virei vendedora. Não, gente. Não vendi Avon, nem Natura, nem produtos eróticos, ou acabaria comprando mais do que vendendo. Tô falando das maquiagens, ok? Bem, resolvi concretizar uma ideia que pairava no ar e só podia vir de uma dorminhoca nata: fazer travesseiros gigantes, que formam a volta do pescoço. Fiz e até que vendi mais do que esperava, inclusive, a grande vedete foi a fronha de oncinha. Dia desses mesmo vendi um Nas Nuvens (tá pensando o que? Tenho até logo e folheto criados pelos amigos Turra e Davi) como presente para o Dia das Mães. Plínio, obrigada pela preferência. Volte sempre.

Uns 40 dias depois de sentir na pele a safadeza dos políticos considerados honrados e não podendo arriscar viver com os lucros vindos dos dorminhocos, apareceu uma proposta de trabalho e, desavisada, fui direto para o limbo dos redatores. Um simples convite de inauguração voltava até 8 vezes antes de ser aprovado. Em menos de 30 loooongooooos e infelizes dias, eu fiz igual ao 02 e pedi para sair. O nojo do lugar era tão asqueroso que pedi demissão sem ter qualquer outro emprego em vista. Mas este inferno merece um post só pra ele.

Passado o choque de ser novamente uma desempregada pela 3ª vez antes do final de novembro – uma das piores épocas do ano para conseguir emprego em agências – eu voltei a escrever meu livro e aumentei minha produção de travesseirões, que até saiu no jornal como uma boa opção de presente e bombou no Natal.

Eis que neste mar de incertezas, surge Gabriela, uma amiga certa me acenando com 1 salva-vidas: os redatores daqui iam tirar 20 dias de férias, cada um numa época diferente. Fernanda, João e Ilma também me deram a maior força. Em uma semana eu já estava mais do que adaptada e torcendo para os clientes prospectados fecharem negócio. Desejava criar raízes e florescer. Quando os meninos voltaram, eu me despedi e me mudei de mala, cuia e cavaquinho para outra agência, já para fazer experiência. Outro lugar ótimo, com profissionais excelentes e divertidos colegas de trabalho, como o querido, lindo e louro Bona. Até hoje não sei se seria contratada porque recebi uma proposta para voltar e voltei. Comecei logo depois do carnaval e tô feliz da vida, florescendo.

Por que escrever?

Para ganhar meu salário no final do mês, para me divertir, para registrar, para dividir, para me libertar e, sobretudo, para me desvendar. Traduzir meus pensamentos, meus sentimentos, minhas alegrias, minhas melancolias. Escrevo para me olhar com afastamento, como se eu fosse outro alguém seguindo meus passos, acompanhando meus caminhos sem me perder por desvios, ou me precipitar por atalhos. Só que nem sempre a gente consegue se reconhecer nos olhos do outro. A pergunta é: qual delas eu realmente sou? A parte boa é que, dizem, quem está de fora enxerga melhor a situação. Então, que venham as minhas letrinhas, o meu divã.

O retorno

Não sei se ainda estou pronta para voltar ao blog de mala e cuia, mas que estou com saudades daqui, ah, estou. Acho que isso já é meio caminho andado. Claro que alguém vai ler e pensar: “ai, que exagero. Escreve quando puder e quiser, pessoa dramática!”. Não é assim que a bandinha toca, não. Tá pensando que blogueira é bagunça? Eu tenho carinho por este cantinho. É algo que gostava de me dedicar, passar o tempo, me divertir, afinal tenho que cuidar bem para receber as minhas visitas. Bem-vindos de volta.