Sem exageros

O alto da cabeça mais alto que o Everest.

A caneca pesa mais que balde.

Degraus viram escadaria de prédio.

O sapato é um tijolo.

O chão tem a fundura de poço.

Ai, gente! É tão difícil mudar de série na academia.

Água no chuveiro

Depois de 30 horas sem banho pelo motivo descrito no post abaixo e suar muito dançando num arraiá danado di bão na agência, chegar em casa e encontrar água no chuveiro foi ainda melhor do que encontrar o Alcides me esperando. Hum... ou não. Peraí que resolvi pensar melhor e talvez reescreva o post.

Sem água na cidade. Pior. Sem água em casa.

A população da Grande Vitória está prestes a sair pelas ruas usando máscaras de oxigênio. É que estamos sem água desde 4ª feira. Ou melhor, a periferia está na seca. Os colegas de trabalho que moram na metrópolis já devem ter tomado 3 banhos hoje, além de lavar a calçada, o carro e os cachorros com mangueira. Tipo aquelas campanhas contra o desperdício, sabe? Mas pior mesmo é servir de chacota: “você tomou banho hoje, Anna?”. Não! Não tomei! Só não virei um clone do Cascão porque ontem minha amiga Gabi me cedeu o chuveiro novinho por 3 minutos. E tudo só tende a piorar. Lá em casa não tem água nem pra lavar as orelhas e a previsão é que chegue somente no domingo! Parece que aconteceu um mega vazamento inconsertável pela competente Cesan. O negócio tá tão feio, tão feio, que hoje, aqui na agência, quando eu vi a água correndo pela descarga, achei uma cena tão bonita que escorreu uma lágrima pelo canto do olho.

Pintinha

1h45 da madruga na agência. Eu, Anderson, Vogas, Márcio e Dino mortos de cansados, cheios de olheiras e aliviados por ser o último dia da semana. Ao menos, poderíamos dormir até tardão no sábado. Os meninos foram unânimes ao dizer que não passariam das 9:30, 10h na cama, pra não perder o dia. Eu falei que só levantaria depois das 11h.

Anderson: 11 horas?

Eu: Por aí. Tô cansadona. Eu vou acordar, a hora que eu acordar. E pronto.

Anderson: Você não tem um pinto pra dar água???

Eu: Anderson... o pinto sou eu.

Perdida no elevador

Eu sou meio atrapalhada pra encontrar endereços. Sempre acho que vou entrar num buraco negro e sair lá no Cazaquistão. Medo de encontrar o Borat. Só que, desta vez, eu sabia chegar ao prédio, aqui perto da agência. Só não lembrava o danado do apartamento. Mas quem se perde no elevador? Confiante, perguntei ao porteiro, que prontamente respondeu:

- Dona Gisele? Tá tendo uma reunião lá, né? Apartamento 1902. Vai pelo outro elevador que a porta fica bem em frente.

Disso eu lembrava. Confiante, apertei o 19º andar e lá fui eu. Quando o elevador abriu, a porta do apê também estava aberta. Ao invés dos meus amigos e da champa, a sala estava ocupada por dois casais e uma senhora muito simpática. Todos sentados em frente a uma mesa com sucos, biscoitos e frutas. Imagine a situação. Eles olhando pra mim. Eu olhando pra eles. Todo mundo com cara de interrogação.

Eu: Aqui não é a casa da Gisele, né?

Moça: É sim. Você veio pro curso de noivas?

Eu: Não – respondi pensando “porteiro filho da puta!”

Senhora: Qual a outra Gisele? Eu moro aqui há muito tempo, eu posso conhecer.

Eu: É uma morena, mãe do Pedro. Ela mora aqui há muito tempo também.

Senhora: É filha de fulana? Que mora em Manhumirim?

Eu: Essa mesma!

Senhora: Ahhh, sei quem é! Mas esqueci o apartamento. Espera aí que vou ligar pro porteiro. Entra minha filha, pode sentar.

Eu: Não... não... obrigada... - agradeci sem-graça, estranhando que, ao lado da porta, tinha uma mini-pia de água benta. Quem tem isso em casa?

Senhora: É no 4ª andar. Apartamento 401.

Eu: Obrigada, mais uma vez – falei antes de sair correndo para o outro elevador.

Já no quarto andar, percebi que tinha algo errado. A luz do corredor estava apagada e a porta, fechada. Só tive certeza que havia alguém em casa porque ouvi uma música. Nada de rock, ou pop, ou blues, ou A Barata Diz Que Tinha. Alguém tocava... piano! O maldito porteiro tava de sacanagem com a minha cara. Não era possível. Irritada, desci para esganá-lo.

Eu: Você me mandou duas vezes para o lugar errado!

Ele: Ahhh.. é que tem duas Giseles no prédio. E as duas tão fazendo festa.

Eu: Tá, tá. Agora, por favoooooooor: qual o apartamento?

Ele: 404.

Eu: Então liga pra ela e dá uma conferida, por favor. E peça pra ela me esperar na porta.

Ele: Dona Gisele, a Anna tá aqui e vai subir. Ela pediu pra senhora esperar ela na porta. Uhum, é no 404, né? Uhum... brigada. Boa noite pra senhora.

Juro que me falou pouco tomar o interfone da mão dele pra conferir que era a minha amiga mesmo do outro lado. Meda de ir parar em outro apê com algum evento estranho, tipo um aniversário de cachorro.

Graças a Deus, cheguei sã e salva. A parte boa do atrapalhamento foi contar o causo recente aos amigos. No final, isso rendeu tantas risadas que deveríamos ter levantado um brinde ao porteiro.

Malvino Salvador: o que fazer?

Esta foi a foto que mais bombou no meu Facebook. Eu tirei na semana passada, quando o gato marcou presença no coquetel de inauguração da Lessô, um cliente da agência onde eu trabalho.

Bem, mas o causo é outro. Um colega de trabalho que viu a foto contou uma história: há uns anos, uma conhecida dele encontrou o Malvino num bar aqui em Vila Velha e pediu um autógrafo, ou para tirar uma foto, algo inocente que a gente pede pra acabar não pedindo outra coisa, né? Abafa.


Aí ele, sutilmente, passou uma cantada nela. E o que ela fez? Dispensou o cara! Por quê? Porque ela é moça direita e tem namorado*. É muita provação, meu Deus.


Ps. Tudo bem que ela estava cercada de amigos do casal. Isso reduz um pouco a credibilidade.


Ps2. Momento lerdeza: o que meu braço fazia segurando a bolsa quando deveria estar enlaçando o Gato?

Dia dos Namorados, sem namorado.



Sem namorado e sem drama também. O coração está vazio, mas não quer ser ocupado por qualquer um. Eu procuro cuidar muito bem dele. Abro as janelas para que entre a brisa suave, troco as lâmpadas queimadas e os azulejos trincados, espalho flores pela sala e coloco óleo nas dobradiças. Tento não deixar o serviço nas mãos de outras pessoas. Ás vezes, ele é albergue. Rápido, festeiro, intenso e divertido. Música alta, luzes hipnóticas coloridas, taças fora do lugar. Dura o tempo exato para só haver boas lembranças. É melhor do que alugar a torto e a direito. Inquilino descuidado só dá prejuízo. Não liga se há vazamentos, canos entupidos, pinturas descascadas. Arrasta móveis, arranha o chão, faz gambiarras, não gosta de porta-retratos, nem de pinturas na parede. Não tem os mesmos cuidados de quem pensa em morar, mesmo que a transação seja cancelada depois. Esse cuida de onde vive. Limpa os pés antes de entrar, coloca o quadrinho “Mi Casa, Su Casa”, passa mais uma mão de tinta na porta, molha as plantas, liga o som e prefere fazer reparos, ao invés de esperar pifar de vez. Arisca que sou, confesso que ando desacreditada. O tapetinho de boas-vindas está enrolado lá no canto. Mas... apesar de guardado, ele está sempre brilhando de limpo.

Dia dos Namorados


Quero me roçar no teu corpo
Sentir teu desejo
Deslizar pelo teu suor
Sugar teus lábios
Provar tua saliva
Arfar obscenidades
Me achar em ti
E deixar-te perder em mim

Ps. Uma homenagem aos apaixonados, e não só namorados. (Reeditação de um post antigo)


Inocência infantil

Anos atrás, eu estava na casa de uma prima, quando chegou um casal que mora há um tempão nos EUA. Ele é brasileiro, ela é americana. O filhinho deles, lindo, parecia uma matraca. Falava como se todo mundo entendesse tudo. O outro garotinho da sala era o Augusto, que ficou olhando para o pequeno gringo de canto de olho. Até que, procurando uma cúmplice, me puxou num canto.


- Tia Kishina – falou balançando a cabeça, como que reprovando – você viu? Ele fala tudo errado!

Eduardo e Mônica, o filme!


Eduardo e Mônica! O casal famoso ganhou uma linda homenagem! Lindos!!!! Obrigada, Vivo. Obrigada, África. E obrigada Legião, por ter existido!

Cumuruxatiba - como não viajar de carro

Planejei a viagem pra essa cidadezinha do sul da Bahia com todo o carinho e nos mínimos detalhes (pra variar). Mas, decididamente, a ida passou longe dos meus planos. Pudera, fiz tudo errado desde o começo. Primeira besteira: saí de casa na 4ª feira, ressaca de carnaval, às 9:30. Além do trânsito, peguei toda a chuva que o Tempo Agora previa. Segunda besteira: parei antes da “fronteira” para almoçar na casa dos meus primos, em Guriri. Não lembrava que andaria mais uns 30Km só pela boquinha livre e meses de fofocas atrasadas. Foi ali que o mundo desabou. Como Noé não apareceu, esperei São Pedro dar uma trégua e parti com o som alto ligado. Cantei feliz da vida meu set list que ia do rock do Linkin Park à Bossa Nova do João Gilberto.


Como alegria de pobre dura pouco, percebi que o céu resmungava. Em minutos, a tempestade chegou. Ou melhor, eu cheguei até a tempestade porque tive a impressão de ter passado por uma cortina de água. E sozinha, pra piorar tudo. Baixei o som e aí começou o inferno. Dirigi um bom trecho quase às cegas, sem enxergar as pálidas faixas amarelas pintadas naquele queijo que alguém tem o desplante de chamar de asfalto.


Com medo de virar estatística de final de feriadão, resolvi seguir um ônibus numa distância bem segura. E assim fui guiada por quilômetros, um pouco menos apreensiva, até que o cata-corno entrou numa cidadezinha. Pronto. Estava por minha conta e risco. Uma vida depois, quando finalmente cheguei a Teixeiras de Freitas, me atrapalhei e entrei no lugar errado. O relógio marcava umas 16:30h. Eu já era para estar na Pousada, descansando numa caminha macia e quente! Mas me vi pedindo informação num boteco copo sujo. Quase parei pra tomar uma breja e relaxar um pouco.


- Como faço pra chegar em Cumuruxatiba?


- Olhe, mê dê uma carona até pertu di Prado qui eu lhi dígu aôndi é. Eu moro pros ladu di lá – pediu uma senhora que disse trabalhar de diarista.


- Então, venha! – respondi.


Assim que ela entrou, perguntou com os olhos esbugalhados se eu ia MESMO pegar SOZINHA aquela estrada PERIGOSA pra Cumuru à noite. Fiquei ainda mais apreensiva. Antes de sair, apontou a casa onde morava e convidou simpática:


- Na volta, parem pa tomá um cafezinhu!


Confesso que pensei em levar a senhorinha à força comigo só pra ter companhia até a Pousada. A chuva havia diminuído. Já em Prado, muitos quilômetros depois, parei num posto pra perguntar ao frentista onde raios ficava a entrada pra Cumuru.


- Cê vai sozinha pra lá? – perguntou preocupado.


- Vou...


Momento de apreensão. Minha e dele.


- Bem, continui nesta pista e siga a plaquinha pra Cumuruxatiba. Depois, andi divagar purque a entrada fica no meiu du matu.


- Brigada...


- E moça... fechi os vidrus.


Não agradeci o moça porque não estava mais apreensiva. Estava apavorada.


O mais impressionante é que o relógio faltava pouco para às 18h e já parecia noite alta! Eu demorei incríveis 8 horas e meia para chegar ali. P-u-t-a-q-u-e-p-a-r-i-u!


Após rodar mais um pouco, passei direto pela placa. Retornei. Claro que eu tirei uma foto do lugar quando vim embora. Agora, imagine a minha cara quando vi este lugar emataiado. Parecia uma clareira de desenho animado, que abre quando alguém passa, e fecha sozinha depois.


Assim que entrei, um caminhão gigantesco ia saindo. Não tive dúvidas, abri rápido o vidro e gritei “moçooo, mooooçoooo” e meti a mão na buzina. Ele parou.


- Moço! Esta é MESMO a estrada pra Cumuru?


- É sim... tá mei rúim... mais escurregadia. Tem um monti de entradas prus caminhão di eucaliptu, mas cê podi sigui retu. Daí uns 16km, tem um barzinhu. Passa por eli, à direita, e andi mais uns 16km. Aí, prontu. Chegô em Cumuru.


- Isso tudo???


- E féchi o vidru. Você tá sozinha???


- Não! Tô com Deus! – respondi, partindo com o carro.


Àquela altura, conseguia até imaginar o frentista, ou o caminhoneiro passando um rádio, avisando a bandidos que uma trouxa num corsinha prata estava indo naquela direção.


Marquei na quilometragem. A estrada era muito pior do que eu esperava. Além de deslizar e sair de muitos buracos, eu me sentia dirigindo num reco-reco, com os dentes batendo uns nos outros. 32 quilômetros naquele inferno. A viagem tinha, REALMENTE, que valer MUITO a pena!


Foi aí que bateu a paranóia. Mato de um lado, mato de outro, mato na frente, mato atrás. Só mato! Só mato! E nada de chegar! Comecei a ficar paranóica. Parecia que ia ver uma assombração, tipo as que pedem carona, mas que, na verdade, estão mortas e não sabem, saca? Ah, vai dizer que nunca ouviu falar disso? Depois pensei em lobisomens. Em ETs. Na Samara. No garotinho de O Grito. Na mocinha do O Exorcista. Na Bruxa de Blair. No Pedro de Lara. A galeria era enorme e sinistra. Virei o retrovisor pra cima, com medo de ver algo no banco de trás. Ridícula, sei disso. A compilação dos filmes de terror só parou quando olhei pro relógio: quase 19h.


- Calma, ainda tá cedo. Não é de madrugada. Calma! – falei sozinha e comecei a rezar. Só aí a piração acabou.


Séculos depois, cheguei ao tal boteco. Apontei para a estrada e perguntei:


- Cumuru?


- Sim! Haja costela, heim!


- Obrigada – agradeci rindo.


Quando já estava acostumada com o caminho, a chuva aumentou e vieram as pontes capengas de madeira. Só pra quebrar a monotonia. Tentei ser racional. Se por ali passavam caminhões, não seria meu carro que ia cair, né? E, se caísse, ninguém ia me achar tão cedo! Ahhhhh!!! Com dificuldade, afastei o pensamento negativo e pensei nos incríveis olhos azuis que me esperavam.


Quilômetros depois, quicando na direção, finalmente a vila apareceu na minha frente. Cinza e vazia. Quando vi a Pousada, quase chorei de emoção!


No outro dia, São Pedro não colaborou muito, mas tudo bem. Cumuru, como os nativos a chamam carinhosamente (e eu também), se revelou bucólica e charmosa. É uma Vila, no melhor sentido da palavra. Um lugar para conhecer a dois e esquecer da vida. A viagem realmente valeu mais a pena do que esperava. Adorei. Tudo.



Ps. Escrevi o "baianês" para ser divertido, porque adoro o sotaque. Assim como excrevo para falar dox cariocax.

Registros: Cumuruxatiba - como não viajar de carro










Meu próximo ofício

Tomada por uma preguiça monstro, me espichei diversas vezes na minha cadeira da agência. Por pouco não caio no chão. Numa dessas espreguiçadas, a maluca que trabalha comigo, Brícia, me pergunta no MSN:


- Como você faz pro seu “suvaco” ser tão branquinho???


- Como assim???


- É bem clarinho!


- Gente, mas eu sou mto branca, né? E eu depilo, ué – respondi sem acreditar na conversa.


- Vc pode ser modelo de suvaco!!!!


- haahahha


- Modelo do desodorante Dove!!!




Toma, Gisele!


(Só aparece gente louca na minha vida. Adoro!)

Santo Antônio - o conto do tal concurso

Este é o meu continho, um dos ganhadores do Concurso da Gato Sabido, em 2010. Em poucos toques, as angústias do Santo Casamenteiro.


Santo Antônio


A labirintite estava passando. Não tem Santo que aguente ficar pendurado tanto tempo de cabeça pra baixo. Antônio odeia esta época. Por que a mulherada acha que vai arrumar um namorado a poucos dias do famigerado 12 de junho, se passou o ano inteiro encalhada? Querem um milagre! Essa pressão ele tira de letra. O que não suporta mais é o método empregado: tortura, humilhação, seqüestro do Menino Jesus. Queria saber da onde veio o mito que esses maus tratos vão funcionar. Podia apostar a auréola que isso tem o dedo do Cupido. Desde o aparecimento do Casamenteiro na mídia, o Cupido perdeu credibilidade e passou a figurar somente anúncios publicitários. Sabia que o alado havia jurado vingança, mas não imaginava que ia partir pra ignorância. Então colocou uma velha idéia em prática. Como vivia carregando o filho Dele pra lá e pra cá, aproveitou o livre acesso e fez a solicitação. Queria o serzinho alado para ajudante e teve o pedido atendido. O Cupido virou a ponte direta entre o santo e as mulheres. Nada chegaria a Antônio se não passasse pelo asinhas. O Cupido nunca imaginou como as mulheres são criativas. Como não tem o Menino Jesus para seqüestrar, elas arrancam as asas, escondem a arpa e o colocam no congelador, sem o paninho branco da cintura. Se o Cupido achava que tinha chegado ao fundo do poço com os anúncios bregas, ele descobriu que nele existe um porão.

Sinal?

Agora mesmo estava conversando com uma amiga, Camila, sobre a dificuldade de engrenar um relacionamento legal, em que os dois lados estejam sinceramente envolvidos e dispostos a fazer dar certo. Ela concordou. Comentei que ando achando todo mundo tão louco e superficial ultimamente! A verdade é que estou desacreditada. Cada história que chega aos meus ouvidos é mais assustadora do que a outra. Cruz credo.

Aí, abri um site de e-books para tentar um contato. Já não entrava lá há muito tempo. A capa deste livro apareceu em letras berrantes. Eu, que acredito em sinais, fiquei um pouco passada.

Então, tá.

Cumuruxatiba

Cumuru.
Cumuruxiba.
Cumuruxatiba.
Vila de nome esquisito, que faz gringo enrolar a língua e enche os nativos de orgulho. Bucólica, afastada do mundo e da realidade. Fiquei fora da realidade.
Muito mais difícil do que a estrada, foi a hora de ir embora.

Mas os meus cabelos...

Eu tenho uma relação de amor e ódio com os meus cabelos. Nunca serei adepta da chapinha porque fico péssima com as madeixas no estilo vaca-lambeu. Isso sem contar que todo mundo tem cabelo liso. Tédio! Infelizmente, meus cachos são indecisos. Um dia eles estão lá, outros, nem dão as caras. E ainda tem os momentos Meu Nome É Gal, caso saia com os fios molhados ou tome um vento pela frente. Meus amigos sofrem comigo: “Meu cabelo tá bom? Fica melhor lá lá, ou pra cá?”.

Mas agora eu descobri como domar a fera. Com eles quase secos, prendo no estilo Princesa Léia, de Star Wars, e vou dormir. Ele fica menos arisco em cima e com os cachos naturais pra baixo. Na pior das hipóteses, ele fica jeitosinho.

Causo 1:
Pude comprovar o efeito Princesa Léia no sábado retrasado. Estava num barzinho com uns amigos e sentamos quase na rua, de tão cheio. Eis que chega um morador de rua, barbudo e todo rasgado:
- Eu vim aqui só pra perguntar qual o segredo de você ter um cabelo tão bonito.
Seguramos o riso pro cara não estacionar ali. Quando ele saiu, Karina, sempre ótima:
- Vai ficar sozinha porque quer!
- O trem é bom mesmo, heim, Hanna! O homi saiu lá do final da rua pra saber o segredo dos seus cabelos! - completou Carlos, morrendo de rir.

Causo 2:
A caminho de Paraty para o Festival da Cachaça, eu, Flávia, Carlos e Clarissa paramos num restaurante em Angra. Um mauricinho, até interessante, também almoçava por lá. Naquela madrugada, no final da festa, quando eu já tinha virado abóbora, eis que passa o mesmo cara, olha pra mim e fala:
- Você estava no restaurante em Angra!

Fiquei besta por ele ter se lembrando. Além de bêbado, mais cedo eu usava óculos escuros e outras roupas. Quando voltei pra casa, contei a história à amiga Gabi. E ela:
- Também, né, com esse cabelo!



Cri Cri Cri (grilos)



Nesta época, eu não fazia a Princesa Léia, então, não sei se o comentário foi bom, ou ruim.

Miranda, sem glamour.



Domingo eu vi O Diabo Veste Prada e fiquei inspirada pra falar sobre chefes escrotos. Quem nunca teve um carrasco assim que rasgue o primeiro contra-cheque. Eu só conheci este gostinho amargo há pouco tempo. Antes era igual ao “Rebelde Sem Causa” do Ultraje a Rigor. Só convivendo com gente decente e sem ter com quem me revoltar. Claro que chefe é chefe e sempre tem uma, ou outra coisinha a ser criticada (até por despeito e diversão), assim como eles também falam da gente. É a eterna briga de classes. Mas disso eu nunca pude me queixar, graças a Deus! Até aquela mulher cruzar o meu caminho. Sabe a vaca enfurecida que distribuiu coices e cabeçadas num shopping e apavorou a galera? É a minha ex-chefe. Cara de uma, cascos da outra. No 5º dia de trabalho ela me fez uma grosseria dos infernos que só não a mandei a puta-que-a-pariu, peguei minha bolsa e parti, porque tive medo de ficar desempregada.


Se eu não tivesse visto a mulher ferrar injustamente um cara que nem era subordinado a ela, entrar na sala dos outros gerentes berrando com quem quisesse, deixar pessoas falando sozinhas e fazer cara de nojo pra tudo, eu poderia jurar que o problema dela era comigo. Conversei com Gabi, uma amiga querida, sobre a grosseirona e ela, muito espiritualizada, falou pra eu parar de jogar energias negativas, que era pior.


- Faça assim. Quando você perceber que ela está nervosa, pense nela sendo envolvida lentamente por uma luz violeta, queimando todas as energias negativas.


- Tá bem.


Juro que estava cheia de boa vontade. A linda luz violeta começou a circulá-la devagar e sempre. Quando eu achava que estava dando certo, ela começou a berrar no telefone e a tonalidade mudou para vermelho escarlate e queimou tudo rapidamente, até dissipá-la em cinzas espalhadas pelo vento. E já foi tarde. Vou pedir demissão, pensei. Venderia flores na feira, mas ali, com ela, eu não continuaria mais. Depois de mim, entrou um cara que também ficou pouquíssimo tempo e saiu. O mais chocante era ver quase todo mundo tratando ela bem e metendo o pau por trás. Ela é odiada. Miranda Priestly, ao menos, tem mais talento, mais elegância, muito mais glamour e muito menos culotes. That's all.

O beijo não dado

Não havia mais nada. Nem caneca, nem água caindo, nem coração batendo. Esqueceu até de respirar. O frio na barriga congelou tudo. Só havia a mão na cintura e aquela boca se aproximando em câmera lenta, com um fundo musical imaginário do Sixpence None The Richer. O momento pedia um beijo doce. A boca prometia um beijo apimentado com puxão de cabelo e tudo mais. Diante do tal fogo que não poderia apagar, declinou, correndo, com as pernas bambas. Literalmente. A lembrança ao seu encalço. Boca. Não te provei. Mas aprovei.

2010. Idas, vindas, retornos, paradas e caminhadas.

O ano começou maravilhosamente bem e terminou cheio de promessas, cumpridas em março de 2011. O grande problema foram os meses que ligaram essas duas pontas. Das festas julinas à folia, minha vida profissional marcou 8,2 na escala Richter. Saí da agência que amava e cai na conversa de politicos “bonzinhos” (eleitos) que não mantiveram a palavra (que surpresa!) e mostraram a porta da rua para quem estava ralando de domingo a domingo e contando com a grana prometida. Bem-feito pra mim, que esqueci do princípio básico: político é igual a cafajeste: promete muito, mas, no fundo, só quer te foder.

Aí, virei vendedora. Não, gente. Não vendi Avon, nem Natura, nem produtos eróticos, ou acabaria comprando mais do que vendendo. Tô falando das maquiagens, ok? Bem, resolvi concretizar uma ideia que pairava no ar e só podia vir de uma dorminhoca nata: fazer travesseiros gigantes, que formam a volta do pescoço. Fiz e até que vendi mais do que esperava, inclusive, a grande vedete foi a fronha de oncinha. Dia desses mesmo vendi um Nas Nuvens (tá pensando o que? Tenho até logo e folheto criados pelos amigos Turra e Davi) como presente para o Dia das Mães. Plínio, obrigada pela preferência. Volte sempre.

Uns 40 dias depois de sentir na pele a safadeza dos políticos considerados honrados e não podendo arriscar viver com os lucros vindos dos dorminhocos, apareceu uma proposta de trabalho e, desavisada, fui direto para o limbo dos redatores. Um simples convite de inauguração voltava até 8 vezes antes de ser aprovado. Em menos de 30 loooongooooos e infelizes dias, eu fiz igual ao 02 e pedi para sair. O nojo do lugar era tão asqueroso que pedi demissão sem ter qualquer outro emprego em vista. Mas este inferno merece um post só pra ele.

Passado o choque de ser novamente uma desempregada pela 3ª vez antes do final de novembro – uma das piores épocas do ano para conseguir emprego em agências – eu voltei a escrever meu livro e aumentei minha produção de travesseirões, que até saiu no jornal como uma boa opção de presente e bombou no Natal.

Eis que neste mar de incertezas, surge Gabriela, uma amiga certa me acenando com 1 salva-vidas: os redatores daqui iam tirar 20 dias de férias, cada um numa época diferente. Fernanda, João e Ilma também me deram a maior força. Em uma semana eu já estava mais do que adaptada e torcendo para os clientes prospectados fecharem negócio. Desejava criar raízes e florescer. Quando os meninos voltaram, eu me despedi e me mudei de mala, cuia e cavaquinho para outra agência, já para fazer experiência. Outro lugar ótimo, com profissionais excelentes e divertidos colegas de trabalho, como o querido, lindo e louro Bona. Até hoje não sei se seria contratada porque recebi uma proposta para voltar e voltei. Comecei logo depois do carnaval e tô feliz da vida, florescendo.

Por que escrever?

Para ganhar meu salário no final do mês, para me divertir, para registrar, para dividir, para me libertar e, sobretudo, para me desvendar. Traduzir meus pensamentos, meus sentimentos, minhas alegrias, minhas melancolias. Escrevo para me olhar com afastamento, como se eu fosse outro alguém seguindo meus passos, acompanhando meus caminhos sem me perder por desvios, ou me precipitar por atalhos. Só que nem sempre a gente consegue se reconhecer nos olhos do outro. A pergunta é: qual delas eu realmente sou? A parte boa é que, dizem, quem está de fora enxerga melhor a situação. Então, que venham as minhas letrinhas, o meu divã.

O retorno

Não sei se ainda estou pronta para voltar ao blog de mala e cuia, mas que estou com saudades daqui, ah, estou. Acho que isso já é meio caminho andado. Claro que alguém vai ler e pensar: “ai, que exagero. Escreve quando puder e quiser, pessoa dramática!”. Não é assim que a bandinha toca, não. Tá pensando que blogueira é bagunça? Eu tenho carinho por este cantinho. É algo que gostava de me dedicar, passar o tempo, me divertir, afinal tenho que cuidar bem para receber as minhas visitas. Bem-vindos de volta.