O alto da cabeça mais alto que o Everest.
A caneca pesa mais que balde.
Degraus viram escadaria de prédio.
O sapato é um tijolo.
O chão tem a fundura de poço.
Ai, gente! É tão difícil mudar de série na academia.
O alto da cabeça mais alto que o Everest.
A caneca pesa mais que balde.
Degraus viram escadaria de prédio.
O sapato é um tijolo.
O chão tem a fundura de poço.
Ai, gente! É tão difícil mudar de série na academia.
1h45 da madruga na agência. Eu, Anderson, Vogas, Márcio e Dino mortos de cansados, cheios de olheiras e aliviados por ser o último dia da semana. Ao menos, poderíamos dormir até tardão no sábado. Os meninos foram unânimes ao dizer que não passariam das 9:30, 10h na cama, pra não perder o dia. Eu falei que só levantaria depois das 11h.
Anderson: 11 horas?
Eu: Por aí. Tô cansadona. Eu vou acordar, a hora que eu acordar. E pronto.
Anderson: Você não tem um pinto pra dar água???
Eu: Anderson... o pinto sou eu.
Eu sou meio atrapalhada pra encontrar endereços. Sempre acho que vou entrar num buraco negro e sair lá no Cazaquistão. Medo de encontrar o Borat. Só que, desta vez, eu sabia chegar ao prédio, aqui perto da agência. Só não lembrava o danado do apartamento. Mas quem se perde no elevador? Confiante, perguntei ao porteiro, que prontamente respondeu:
- Dona Gisele? Tá tendo uma reunião lá, né? Apartamento 1902. Vai pelo outro elevador que a porta fica bem em frente.
Disso eu lembrava. Confiante, apertei o 19º andar e lá fui eu. Quando o elevador abriu, a porta do apê também estava aberta. Ao invés dos meus amigos e da champa, a sala estava ocupada por dois casais e uma senhora muito simpática. Todos sentados em frente a uma mesa com sucos, biscoitos e frutas. Imagine a situação. Eles olhando pra mim. Eu olhando pra eles. Todo mundo com cara de interrogação.
Eu: Aqui não é a casa da Gisele, né?
Moça: É sim. Você veio pro curso de noivas?
Eu: Não – respondi pensando “porteiro filho da puta!”
Senhora: Qual a outra Gisele? Eu moro aqui há muito tempo, eu posso conhecer.
Eu: É uma morena, mãe do Pedro. Ela mora aqui há muito tempo também.
Senhora: É filha de fulana? Que mora em Manhumirim?
Eu: Essa mesma!
Senhora: Ahhh, sei quem é! Mas esqueci o apartamento. Espera aí que vou ligar pro porteiro. Entra minha filha, pode sentar.
Eu: Não... não... obrigada... - agradeci sem-graça, estranhando que, ao lado da porta, tinha uma mini-pia de água benta. Quem tem isso em casa?
Senhora: É no 4ª andar. Apartamento 401.
Eu: Obrigada, mais uma vez – falei antes de sair correndo para o outro elevador.
Já no quarto andar, percebi que tinha algo errado. A luz do corredor estava apagada e a porta, fechada. Só tive certeza que havia alguém em casa porque ouvi uma música. Nada de rock, ou pop, ou blues, ou A Barata Diz Que Tinha. Alguém tocava... piano! O maldito porteiro tava de sacanagem com a minha cara. Não era possível. Irritada, desci para esganá-lo.
Eu: Você me mandou duas vezes para o lugar errado!
Ele: Ahhh.. é que tem duas Giseles no prédio. E as duas tão fazendo festa.
Eu: Tá, tá. Agora, por favoooooooor: qual o apartamento?
Ele: 404.
Eu: Então liga pra ela e dá uma conferida, por favor. E peça pra ela me esperar na porta.
Ele: Dona Gisele, a Anna tá aqui e vai subir. Ela pediu pra senhora esperar ela na porta. Uhum, é no 404, né? Uhum... brigada. Boa noite pra senhora.
Juro que me falou pouco tomar o interfone da mão dele pra conferir que era a minha amiga mesmo do outro lado. Meda de ir parar em outro apê com algum evento estranho, tipo um aniversário de cachorro.
Graças a Deus, cheguei sã e salva. A parte boa do atrapalhamento foi contar o causo recente aos amigos. No final, isso rendeu tantas risadas que deveríamos ter levantado um brinde ao porteiro.
Bem, mas o causo é outro. Um colega de trabalho que viu a foto contou uma história: há uns anos, uma conhecida dele encontrou o Malvino num bar aqui em Vila Velha e pediu um autógrafo, ou para tirar uma foto, algo inocente que a gente pede pra acabar não pedindo outra coisa, né? Abafa.
Aí ele, sutilmente, passou uma cantada nela. E o que ela fez? Dispensou o cara! Por quê? Porque ela é moça direita e tem namorado*. É muita provação, meu Deus.
Ps. Tudo bem que ela estava cercada de amigos do casal. Isso reduz um pouco a credibilidade.
Ps2. Momento lerdeza: o que meu braço fazia segurando a bolsa quando deveria estar enlaçando o Gato?
Sem namorado e sem drama também. O coração está vazio, mas não quer ser ocupado por qualquer um. Eu procuro cuidar muito bem dele. Abro as janelas para que entre a brisa suave, troco as lâmpadas queimadas e os azulejos trincados, espalho flores pela sala e coloco óleo nas dobradiças. Tento não deixar o serviço nas mãos de outras pessoas. Ás vezes, ele é albergue. Rápido, festeiro, intenso e divertido. Música alta, luzes hipnóticas coloridas, taças fora do lugar. Dura o tempo exato para só haver boas lembranças. É melhor do que alugar a torto e a direito. Inquilino descuidado só dá prejuízo. Não liga se há vazamentos, canos entupidos, pinturas descascadas. Arrasta móveis, arranha o chão, faz gambiarras, não gosta de porta-retratos, nem de pinturas na parede. Não tem os mesmos cuidados de quem pensa em morar, mesmo que a transação seja cancelada depois. Esse cuida de onde vive. Limpa os pés antes de entrar, coloca o quadrinho “Mi Casa, Su Casa”, passa mais uma mão de tinta na porta, molha as plantas, liga o som e prefere fazer reparos, ao invés de esperar pifar de vez. Arisca que sou, confesso que ando desacreditada. O tapetinho de boas-vindas está enrolado lá no canto. Mas... apesar de guardado, ele está sempre brilhando de limpo.
Ps. Uma homenagem aos apaixonados, e não só namorados. (Reeditação de um post antigo)
Anos atrás, eu estava na casa de uma prima, quando chegou um casal que mora há um tempão nos EUA. Ele é brasileiro, ela é americana. O filhinho deles, lindo, parecia uma matraca. Falava como se todo mundo entendesse tudo. O outro garotinho da sala era o Augusto, que ficou olhando para o pequeno gringo de canto de olho. Até que, procurando uma cúmplice, me puxou num canto.
- Tia Kishina – falou balançando a cabeça, como que reprovando – você viu? Ele fala tudo errado!
Planejei a viagem pra essa cidadezinha do sul da Bahia com todo o carinho e nos mínimos detalhes (pra variar). Mas, decididamente, a ida passou longe dos meus planos. Pudera, fiz tudo errado desde o começo. Primeira besteira: saí de casa na 4ª feira, ressaca de carnaval, às 9:30. Além do trânsito, peguei toda a chuva que o Tempo Agora previa. Segunda besteira: parei antes da “fronteira” para almoçar na casa dos meus primos, em Guriri. Não lembrava que andaria mais uns 30Km só pela boquinha livre e meses de fofocas atrasadas. Foi ali que o mundo desabou. Como Noé não apareceu, esperei São Pedro dar uma trégua e parti com o som alto ligado. Cantei feliz da vida meu set list que ia do rock do Linkin Park à Bossa Nova do João Gilberto.
Como alegria de pobre dura pouco, percebi que o céu resmungava. Em minutos, a tempestade chegou. Ou melhor, eu cheguei até a tempestade porque tive a impressão de ter passado por uma cortina de água. E sozinha, pra piorar tudo. Baixei o som e aí começou o inferno. Dirigi um bom trecho quase às cegas, sem enxergar as pálidas faixas amarelas pintadas naquele queijo que alguém tem o desplante de chamar de asfalto.
Com medo de virar estatística de final de feriadão, resolvi seguir um ônibus numa distância bem segura. E assim fui guiada por quilômetros, um pouco menos apreensiva, até que o cata-corno entrou numa cidadezinha. Pronto. Estava por minha conta e risco. Uma vida depois, quando finalmente cheguei a Teixeiras de Freitas, me atrapalhei e entrei no lugar errado. O relógio marcava umas 16:30h. Eu já era para estar na Pousada, descansando numa caminha macia e quente! Mas me vi pedindo informação num boteco copo sujo. Quase parei pra tomar uma breja e relaxar um pouco.
- Como faço pra chegar em Cumuruxatiba?
- Olhe, mê dê uma carona até pertu di Prado qui eu lhi dígu aôndi é. Eu moro pros ladu di lá – pediu uma senhora que disse trabalhar de diarista.
- Então, venha! – respondi.
Assim que ela entrou, perguntou com os olhos esbugalhados se eu ia MESMO pegar SOZINHA aquela estrada PERIGOSA pra Cumuru à noite. Fiquei ainda mais apreensiva. Antes de sair, apontou a casa onde morava e convidou simpática:
- Na volta, parem pa tomá um cafezinhu!
Confesso que pensei em levar a senhorinha à força comigo só pra ter companhia até a Pousada. A chuva havia diminuído. Já em Prado, muitos quilômetros depois, parei num posto pra perguntar ao frentista onde raios ficava a entrada pra Cumuru.
- Cê vai sozinha pra lá? – perguntou preocupado.
- Vou...
Momento de apreensão. Minha e dele.
- Bem, continui nesta pista e siga a plaquinha pra Cumuruxatiba. Depois, andi divagar purque a entrada fica no meiu du matu.
- Brigada...
- E moça... fechi os vidrus.
Não agradeci o moça porque não estava mais apreensiva. Estava apavorada.
O mais impressionante é que o relógio faltava pouco para às 18h e já parecia noite alta! Eu demorei incríveis 8 horas e meia para chegar ali. P-u-t-a-q-u-e-p-a-r-i-u!
Após rodar mais um pouco, passei direto pela placa. Retornei. Claro que eu tirei uma foto do lugar quando vim embora. Agora, imagine a minha cara quando vi este lugar emataiado. Parecia uma clareira de desenho animado, que abre quando alguém passa, e fecha sozinha depois.
Assim que entrei, um caminhão gigantesco ia saindo. Não tive dúvidas, abri rápido o vidro e gritei “moçooo, mooooçoooo” e meti a mão na buzina. Ele parou.
- Moço! Esta é MESMO a estrada pra Cumuru?
- É sim... tá mei rúim... mais escurregadia. Tem um monti de entradas prus caminhão di eucaliptu, mas cê podi sigui retu. Daí uns 16km, tem um barzinhu. Passa por eli, à direita, e andi mais uns 16km. Aí, prontu. Chegô em Cumuru.
- Isso tudo???
- E féchi o vidru. Você tá sozinha???
- Não! Tô com Deus! – respondi, partindo com o carro.
Àquela altura, conseguia até imaginar o frentista, ou o caminhoneiro passando um rádio, avisando a bandidos que uma trouxa num corsinha prata estava indo naquela direção.
Marquei na quilometragem. A estrada era muito pior do que eu esperava. Além de deslizar e sair de muitos buracos, eu me sentia dirigindo num reco-reco, com os dentes batendo uns nos outros.
Foi aí que bateu a paranóia. Mato de um lado, mato de outro, mato na frente, mato atrás. Só mato! Só mato! E nada de chegar! Comecei a ficar paranóica. Parecia que ia ver uma assombração, tipo as que pedem carona, mas que, na verdade, estão mortas e não sabem, saca? Ah, vai dizer que nunca ouviu falar disso? Depois pensei em lobisomens. Em ETs. Na Samara. No garotinho de O Grito. Na mocinha do O Exorcista. Na Bruxa de Blair. No Pedro de Lara. A galeria era enorme e sinistra. Virei o retrovisor pra cima, com medo de ver algo no banco de trás. Ridícula, sei disso. A compilação dos filmes de terror só parou quando olhei pro relógio: quase 19h.
- Calma, ainda tá cedo. Não é de madrugada. Calma! – falei sozinha e comecei a rezar. Só aí a piração acabou.
Séculos depois, cheguei ao tal boteco. Apontei para a estrada e perguntei:
- Cumuru?
- Sim! Haja costela, heim!
- Obrigada – agradeci rindo.
Quando já estava acostumada com o caminho, a chuva aumentou e vieram as pontes capengas de madeira. Só pra quebrar a monotonia. Tentei ser racional. Se por ali passavam caminhões, não seria meu carro que ia cair, né? E, se caísse, ninguém ia me achar tão cedo! Ahhhhh!!! Com dificuldade, afastei o pensamento negativo e pensei nos incríveis olhos azuis que me esperavam.
Quilômetros depois, quicando na direção, finalmente a vila apareceu na minha frente. Cinza e vazia. Quando vi a Pousada, quase chorei de emoção!
No outro dia, São Pedro não colaborou muito, mas tudo bem. Cumuru, como os nativos a chamam carinhosamente (e eu também), se revelou bucólica e charmosa. É uma Vila, no melhor sentido da palavra. Um lugar para conhecer a dois e esquecer da vida. A viagem realmente valeu mais a pena do que esperava. Adorei. Tudo.
Ps. Escrevi o "baianês" para ser divertido, porque adoro o sotaque. Assim como excrevo para falar dox cariocax.
Tomada por uma preguiça monstro, me espichei diversas vezes na minha cadeira da agência. Por pouco não caio no chão. Numa dessas espreguiçadas, a maluca que trabalha comigo, Brícia, me pergunta no MSN:
- Como você faz pro seu “suvaco” ser tão branquinho???
- Como assim???
- É bem clarinho!
- Gente, mas eu sou mto branca, né? E eu depilo, ué – respondi sem acreditar na conversa.
- Vc pode ser modelo de suvaco!!!!
- haahahha
- Modelo do desodorante Dove!!!
Toma, Gisele!
(Só aparece gente louca na minha vida. Adoro!)
Este é o meu continho, um dos ganhadores do Concurso da Gato Sabido, em 2010. Em poucos toques, as angústias do Santo Casamenteiro.
Santo Antônio
A labirintite estava passando. Não tem Santo que aguente ficar pendurado tanto tempo de cabeça pra baixo. Antônio odeia esta época. Por que a mulherada acha que vai arrumar um namorado a poucos dias do famigerado 12 de junho, se passou o ano inteiro encalhada? Querem um milagre! Essa pressão ele tira de letra. O que não suporta mais é o método empregado: tortura, humilhação, seqüestro do Menino Jesus. Queria saber da onde veio o mito que esses maus tratos vão funcionar. Podia apostar a auréola que isso tem o dedo do Cupido. Desde o aparecimento do Casamenteiro na mídia, o Cupido perdeu credibilidade e passou a figurar somente anúncios publicitários. Sabia que o alado havia jurado vingança, mas não imaginava que ia partir pra ignorância. Então colocou uma velha idéia em prática. Como vivia carregando o filho Dele pra lá e pra cá, aproveitou o livre acesso e fez a solicitação. Queria o serzinho alado para ajudante e teve o pedido atendido. O Cupido virou a ponte direta entre o santo e as mulheres. Nada chegaria a Antônio se não passasse pelo asinhas. O Cupido nunca imaginou como as mulheres são criativas. Como não tem o Menino Jesus para seqüestrar, elas arrancam as asas, escondem a arpa e o colocam no congelador, sem o paninho branco da cintura. Se o Cupido achava que tinha chegado ao fundo do poço com os anúncios bregas, ele descobriu que nele existe um porão.
Cri Cri Cri (grilos)
Nesta época, eu não fazia a Princesa Léia, então, não sei se o comentário foi bom, ou ruim.
Domingo eu vi O Diabo Veste Prada e fiquei inspirada pra falar sobre chefes escrotos. Quem nunca teve um carrasco assim que rasgue o primeiro contra-cheque. Eu só conheci este gostinho amargo há pouco tempo. Antes era igual ao “Rebelde Sem Causa” do Ultraje a Rigor. Só convivendo com gente decente e sem ter com quem me revoltar. Claro que chefe é chefe e sempre tem uma, ou outra coisinha a ser criticada (até por despeito e diversão), assim como eles também falam da gente. É a eterna briga de classes. Mas disso eu nunca pude me queixar, graças a Deus! Até aquela mulher cruzar o meu caminho. Sabe a vaca enfurecida que distribuiu coices e cabeçadas num shopping e apavorou a galera? É a minha ex-chefe. Cara de uma, cascos da outra. No 5º dia de trabalho ela me fez uma grosseria dos infernos que só não a mandei a puta-que-a-pariu, peguei minha bolsa e parti, porque tive medo de ficar desempregada.
Se eu não tivesse visto a mulher ferrar injustamente um cara que nem era subordinado a ela, entrar na sala dos outros gerentes berrando com quem quisesse, deixar pessoas falando sozinhas e fazer cara de nojo pra tudo, eu poderia jurar que o problema dela era comigo. Conversei com Gabi, uma amiga querida, sobre a grosseirona e ela, muito espiritualizada, falou pra eu parar de jogar energias negativas, que era pior.
- Faça assim. Quando você perceber que ela está nervosa, pense nela sendo envolvida lentamente por uma luz violeta, queimando todas as energias negativas.
- Tá bem.
Juro que estava cheia de boa vontade. A linda luz violeta começou a circulá-la devagar e sempre. Quando eu achava que estava dando certo, ela começou a berrar no telefone e a tonalidade mudou para vermelho escarlate e queimou tudo rapidamente, até dissipá-la em cinzas espalhadas pelo vento. E já foi tarde. Vou pedir demissão, pensei. Venderia flores na feira, mas ali, com ela, eu não continuaria mais. Depois de mim, entrou um cara que também ficou pouquíssimo tempo e saiu. O mais chocante era ver quase todo mundo tratando ela bem e metendo o pau por trás. Ela é odiada. Miranda Priestly, ao menos, tem mais talento, mais elegância, muito mais glamour e muito menos culotes. That's all.