
Esse final de semana fez um calor terrível. Os dias estavam lindos, azuis, sem uma nuvem para ofuscar o sol por segundos que fossem, e quase não ventava. E eu, ao invés de correr para a praia, não fui. Passei longe do mar e da piscina que adoro ir. Não me pergunte o motivo que não sei dizer. Simplesmente estava sem vontade. Aí ontem, depois de assistir O Iluminado e suando bicas, lembrei dos longos banhos de mangueira que tomava quando era criança, enquanto a empregada lavava o quintal. Uma delícia. Me peguei relembrando aquela época, relembrando quando eu não me importava com o ridículo de fazer guerra de água nos dias de calor, ou quando transformava o sabão que Dona Antônia jogava no chão em patins, e saía deslizando de um canto ao outro no quintal. Quando dei por mim, já estava na porta munida de balde, detergente, pano, toalha e rodo. Vovó não entendeu nada e perguntou aonde eu estava indo:
- Vou lavar o carro!
- O que deu em você?
- Calor, vó!
Ela continuou com cara de interrogação. Assim que eu abri a torneira, mamãe já estava do meu lado também.
- Também estou com calor!
Foi sensacional. Parece coisa de gente louca, mas nos divertimos muito lavando o carro, conversando, rindo, molhando as pernas uma da outra, enfim, sendo bobocas. Quase uma hora depois, subimos, totalmente revigoradas e refrescadas. Só lamentamos o fato de não termos um muro, ou teria rolado fácil um chuveirinho cafona e ridículo na mangueira. Pensando bem, melhor não. A essa altura ia pagar de Garota da Camiseta Molhada. Mais do que lavar o carro, demos um banho na alma.