Atendimento sofre

Eu detesto quando tenho que atender cliente. Detesto. Detesto ter que explicar porque o layout, o título, a foto, as cores foram feitos assim, e não assado. Às vezes é tão óbvio que nem sei como explicar. Minha vontade é de apontar, arregalar os olhos e boquiaberta perguntar: como assim, você quer alteração? Quando as observações fazem sentido, tudo bem, é o negócio do cara, mas, infelizmente, esse valioso tipo de cliente é tão raro quanto whisky original em boate. Eu já passei alguns apertos. Certa vez, fiz um anúncio pra uma Clínica Veterinária e a especialidade da mulher era Oftalmologia. Nunca tinha ouvido falar disso e olha que tenho um gato que já teve problema no olho, coitado. Depois de um briefing minguado, porque muito cliente acha que informar sobre o negócio tá fazendo o trabalho pra gente, e o prazo mais curto que a verba, conseguimos fazer um anúncio até legalzinho. Era algo assim:
“Seu bichinho te reconhece até pelo faro. Mas já viu como ele gosta de olhar pra você?”. Tinha um pequeno texto falando sobre a importância de procurar um especialista pro melhor amigo e como a clínica era bem preparada. Pra completar, conseguimos uma foto GRÁTIS de um cão muito fofo olhando com atenção pra câmera.
Parecia que tudo ia bem até a Fernanda aparecer na criação. A cliente estava na sala dela querendo mudar tudo. Fui tentar salvar a peça. Cheguei dando um beijo na bochecha da moça, contando do meu gato, o Kiko, da vez que ele quase ficou cego, em como cogitei a trocar o nome pra Ray Charles e só não tinha aparecido na Clínica, porque eu nem sabia que tinha oftalmologista pra gato. Depois de bater um papinho, fomos discutir o anúncio. Resumindo. A mulher queria tirar o textinho que valorizava o serviço e colocar: Amor – Carinho – Dedicação. Eu expliquei o motivo de tudo ali. E a mulher insistindo.
Eu (calma): Olha, Dra. Fulana, eu tenho certeza que essa é a melhor comunicação pra sua Clínica. Mas se você quer tirar tudo e colocar essas 3 palavrinhas, por mim, tudo bem. A Clínica é sua.
Dra. Fulana (insegura): É... você tem certeza, né?
Eu: Sim. Eu tenho.
Fernanda estava muda e vermelha.
Dra. Fulana: Então, tá. Vamos deixar assim. Mas... e o título?
Até então, ela tinha AMADO o título.
Eu (surpresa): O que tem o título?
Dra. Fulana (persistente): Não sei... eu acho que podemos trocar a palavra viu por percebeu.
Eu (surpresa): Mas por que? Fica mais coloquial e faz referência a ver, visão, olho, sua especialidade. – e pensei: se trocar a palavra vai ter que mexer no layout!!!
Dra. Fulana: humm...
Eu: Mas por que você quer mudar?
Dra. Fulana (desorientada): Ahhh... hoje em dia, né? Esse negócio de policamente correto tá na moda...
Eu com cara de interrogação.
Dra. Fulana: ... então, esse negócio de viu, ver... e quem for cego?
Eu, totalmente incrédula soltei: bem... se a pessoa for cega, não vai ler jornal. (dannn)
Ela engasgou, Fernanda quase caiu da cadeira e eu lá, passada com a preocupação da mulher. No fim das contas saiu do jeito que estava. Ela teve um monte de ligação, ganhou uma entrevista sobre a tal especialidade no jornal e ficou feliz da vida. E eu, mais contente ainda por só encarar uma criatura assim, muito de vez em quando.

9 comentários:

Anônimo disse...

bicho, melhor que ler o seu texto é lembrar dessa situação ao vivo e a cores... cliente vai a gente passar por cada coisa.. é por isso que sou mídia. Bjão e parabéns (novamente) pelo exelente texto.

Anônimo disse...

Ai...e fico aqui imaginando vc com essa paciência "enooorrrmmmeee" que Deus lhe deu fazendo essas graças todas...imagina bem se isso caísse na minha mão...ai, ai...rsrsrs. Beijos...boa semana amiga. KK.

José disse...

eu mudava tudo e ainda botava um pincher pra ilustrar a peça.

yaauhuahu! Meu Deus! A gente tem que rever o ditado que diz: "De Médico e louco todo mundo tem um pouco" pra "De Redator e louco todo mundo tem um pouco".

Essa é a nossa profissão anna, quem mandou a gente não estudar? hhauauhhuu! bjooooos

Anônimo disse...

Muito engraçado!!!
Minha nossa! Fiquei imaginado tudo, as caras...
Jornal em braile, a solução!

Parabéns(,) ótimo blog!
Bjs

Anônimo disse...

huahuahuahuah
Essa sou euuuuu (Fernanda - Atendimento (Risos)
Nem falo nada ...sei que esse tipo de cliente quero distância (PQP)
Será possível, fiz graduação na área estou terminando a minha pós graduação e tenho que ouvir uma dessa... Mas fala verdade Anna...
E a história da Corda e dos Ovinhos...
Se eu fosse você... escreveria um livro com o tempo que trabalhamso junto. Vai ser uma piada...
Beijos Gata
Te adoro muito
Ps: Estou me matando de tanto ri

Dedinhos Nervosos disse...

ahhahah
Fernanda! Vou escrever sim! Depois q contar todos as confusões, te aviso. Esses clientes que só pensam... naquilo... hahaa
Te adoro! Saudades! Bjos!

Helena Cortez disse...

Impressionante mesmo como cliente é chato. O pior é que eu mudei de profissão para não ter que passar por isso, aí arrumei um chefe pior que cliente. Chega. Acho que vou começar a plantar bananas.

Anônimo disse...

Rafael Mattos says:

"Essa menina..."
Redatora e não repentista... Sorte dela não usar uma fita métrica né Anna....

ótimo texto, como todos que você faz!!!

Bjos

Pedro disse...

rsrsrsrsrs
Eu sei o que é isso, mas como eu sei...
E o pior de tudo: não é que ela não tinha verba. Ela não queria era liberar a verba. Também tenho gato e uma vez ele precisou fazer uma cirurgia no olho. 500 contos. Uma clínica minúscula com um monte de gatos e seus donos na sala de espera e eles sem data para marcar a cirurgia. Da próxima, tabela cheia nela. E cobre a foto!
Beijo.