Atendendo a pedidos: Maria Paula ficou com Ferraço

Quem viu Duas Caras sabe do que estou falando. Quem não viu, eu explico: no começo da novela, Adalberto se fez passar por bonzinho para dar um golpe na pequena órfã. Na mesma noite em que enterrou os pais, Maria Songa Monga perdeu sua virgindade, e todo o seu bom senso, para um cara que tinha acabado de conhecer. Fugiu, casou e passou o recibo de otária quando fez dele o seu procurador. Logo depois, o espertalhão vendeu todos os bens da Maria Burra, deixando apenas um herdeiro manipulador no bucho, que ele não sabia existir, ou era capaz de esperar o moleque nascer para comercializar também.

Corta. Passagem do tempo. 10 anos depois, Maria Vingadora chega ao Brasil e encontra Adalberto, que mudou a cara e o nome para Ferraço. Ela faz um escândalo, Ferraço manda matá-la, mas os capangas não conseguem. Ao descobrir que tem um filho, resolve envolver a criança de tal modo que tornasse impossível a Maria Desorientada denunciá-lo. Passa dezenas de capítulos falando que o guri é insuportável, o que está cheio de razão. Essa foi, basicamente, a história principal.

Que desfecho esperar de uma trama assim? No mínimo que a Maria Tonta ficasse mais esperta depois de tanto perrengue. Mas não. Ela terminou o folhetim nos braços do Ferraço, numa praia paradisíaca. Porém, o mais chocante pra mim foi descobrir que a novela só teve esse final porque milhões de pessoas pediram. E olha que Aguinaldo Silva não deixou dúvidas quanto ao caráter do personagem. Nem precisava abrir sindicância, CPI, contratar detetives, recorrer a testemunhas, ou a mães de santo. Tava tudo preto no branco. Ele era o vilão da vez. E mesmo assim, depois de tudo isso, as pessoas torciam pelo casal! Alguém, por favor, pode me explicar esse fenômeno? Melhor: desenhar? Porque palavra alguma vai me convencer de que isso faz sentido. Por que ele é bonitinho? Por que é rico? Por que é carismático? Por que ele colocou o nome dela na boca do sapo?

Sei que estou sendo repetitiva, mas é para ver se consigo digerir esse absurdo pois não se trata apenas de uma novela. Trata-se da capacidade preocupante de discernimento que esses brasileiros possuem: a de uma ameba.

Para a reconciliação não ficar muito constrangedora, o autor foi obrigado a dar uma melhorada na imagem do Ferraço. Ele começou a gostar do filho, demonstrou amor pela Maria Enganada a ponto de tomar um tiro no lugar dela.

Agora ficou mais fácil de entender porque tantos políticos corruptos voltam ao poder mesmo quando são envolvidos em escândalos de impitchaman, prisões, falcatruas, desvios, superfaturamentos, envolvimentos com tráfico e por aí vai. Em sua grande maioria, os brasileiros assistem a tudo de camarote, batem palmas e torcem para que esses vilões da vida real transformem-se em mocinhos. Acham que vale a pena reeleger aqueles que roubam, mas fazem; como se fosse um ato de boa vontade. Ou nos políticos bonitões, com caras de bons moços. Existem também os que vivem fazendo churrascos para a classe trabalhadora, da qual, evidentemente, ele nunca vai fazer parte. Outros confessam suas safadezas, se dizem arrependidos e se lançam com ícones da verdade. Mas não adianta. Brasileiro não se emenda. Basta o sujeito ter carisma e uma boa conversa, que vai haver sempre mais uma chance, mais uma esperança.

Voltando à novela, sabe o final que eu gostaria de ter visto? O Ferraço ferrando de novo a Maria Esperançosa. Queria que ele fizesse o pentelhinho do Renato detestar a mãe, que por sua vez ficaria gorda, varizenta, com o cabelo pichaim e casada com o chato do deputado paquito. Só para o povo largar de ser besta e aprender a nunca mais torcer para uma criatura comprovadamente mal caráter. Pelo menos na ficção.

18 comentários:

Renatinha disse...

Mas Dedinhos,
Sabe porque teve este final?
Olha que outros galãs arrumaram para a Maria Mijona... um advogado sem carisma, pegada, corte de cabelo nenhum. E um deputado que pinta o cabelo e usa lente, e é magrelo e parece pegar ainda pior que o advogado.
Tadinha. Em algum momento ela teve opção?
Voltou para o cafajeste.
Ufa... isso estava engasgado.
kkkkk
beijos
Re

Flávia D. disse...

Ahh não Re...o advogado sem carisma é tudo de bom, tinha que ter ficado com ele...hehehe
Pois é, concordo contigo Dedinhos, por essas e outras é tão difícil banir a corrupção em nosso país.
bjos

Dedinhos Nervosos disse...

Eu tb "grado" muito do advogado
hahahaha

Camila disse...

uahaahauahu, nossa, mas q menina má, q final é esse?? rsrsr
Em relação a novela (se bem q não gosto muito, mas assisto as vezes por causa da minha mãe, enfim... rsrs) Acredito q a novela teve esse final pq se assim não fosse, a maria paula em questão acabaria sozinha.... A trama começou bem,ela com aquele barbudo lá (não sei o nome dele) de repente ele fica com a filha do Juvenal, surge o paquito (pelo amor, q cabelo é aquele daquele deputado?) ai, muda td... e acho que se ela não ficasse junto com o ferraço, ia ficar sem graça, se bem q depois de ler o seu post, minha opinião ficou bem abalada.... enfim.... ahh, mas o brasileiro tem sido burrinho mesmo. Qr saber, tu tem razão, como assim a mocinha termina com o vilão??? povo doido!!!! rsrrssrsr


http://www.devaneioconstante.blogspot.com/

Unknown disse...

Terra Nostra....é essa foi a ultima novela que vi. Coitado de mim era apenas um garotinho com seus 12 aninhos......


www.locupletado.wordpress.com

Thaís disse...

Eu como boa noveleira só gosto dos 'malvados' para mim sempre os mais inteligentes, interessantes e bem vestidos. Silvia era um glamour!
Quanto a Ferraço, achei um desbunde ele 'triunfar'.
Bjoooooooo

Anônimo disse...

Pois é. Se você não entendeu, eu muito menos. Só que prá mim, uma mulher que volta para um cara que tirou tudo dela, até a vergonha na cara e depois tentou matá-la (lembra? uma festa ai em que apagaram a mulher e jogaram no mato)tem que ser muito safada.

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Aproveitando o espaço, você errou... 2 não é irmão do 4! hahaha

Kakaya disse...

POxa, fiquei sabendo desse final agora!Achei que o autor tivesse contrariado o povo, pois a última parte que vi, foi quando ele saíu da cadeia e ela não estava esperando, e depois ele ficou sabendo que ela vendeu tudo o que era dele!
POoOOObre de mim!rs!
Antes tivesse sido assim né?!

Helena Cortez disse...

Na verdade o Aguinaldo estava há meses teclando nessa idéia absurda que Maria Paula ainda era apaixonada pelo Ferraço. Fazia o advogado dizer, a amiga do Extra... sem noção. Aí colocaram essa música que deixava na cara "don't give a choice 'cause i'm goingo to make the same mistake again". O cara tava maracutando isso desde quando ela e o advogado ficaram juntos e noivos. Aí pronto. Começaram a chamar a menina de apaixonada, de fixada nele... tava na cara. Eu queria mesmo que aquele moleque morresse e a Maria Paula fosse embora com o dinheiro. Pelo menos a Silvia levou o motorista para Paris. rsss

M. disse...

Não adianta, o povo quer ver final feliz e redenção. Gostei da sua narração, espirituosa! Não assisti a novela.

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Outro blog da Mary

DuDu Magalhães disse...

Ela poderia ter ficado comigo.O

mas nesse circo chamado "brasil" tudo é possível né!

pS: seu post tahh legal, mas da um confere nos pronomes antes dos verbos, faz com que as concordâncias verbais fiquem "estranhas"

http://visaocontraria.blogspot.com/

abrass

Dedinhos Nervosos disse...

Oi Dudu, tudo certo? Valeu pelo toque e vou rever direitinho. Mas já adianto que em alguns posts, eu escrevo do jeito que falo, como essa parte:

"Para a reconciliação não ficar muito constrangedora, o autor foi obrigado a dar uma melhorada na imagem do Ferraço."

Quando o + certo seria:

"Para a reconciliação não ficar muito constrangedora, o autor foi obrigado a melhorar a imagem do Ferraço."

Mas deve ter erro por aí mesmo porque escrevi rapidamente e nem revisei depois.

Beijos e volte sempre.

blog disse...

Dedinhos, as telenovelas funcionam como os folhetins dezenovistas. Não há como fugir a essa dura realidade.
Existe algo que nunca pode ser desprezado: o consumidor. Assim funciona o capitalismo. Funcionou com José de Alencar, Franklin Távora, Bernardo Guimarães, Taunay. Não vai funcionar na Rede Globo?
Já imaginou 40 milhõs de espectadores revoltados porque a telenovela frustrou-os?

Enfim, fazer o quê?

Marcos Costa Melo disse...

Por isso comentei lá no Euforia que além de todo o desgaste de escrever 30 páginas por dia, o autor ainda sofre com essa pressão do público.

De uns anos para cá, com a concorrência e a publicidade, isso aumentou muito. Eles fazem até sessões de avaliação com um grupo supostamente representativo e isso é passado ao autor.

bj

Elisete disse...

Pois éh, acabou assim a novela. Assisti desde o começo e confeço que estava na duvida em qual final torcer, mas enfim, é bem assim mesmo que as coisas acontecem.

Abraços

Karla Ruoco disse...

Meu Deus!!! Descobri que tem outra Karla com K na sua vida, e, Karlinha que é como me chamam também rs

Anônimo disse...

E sabe por que todo mundo torceu pelo Ferraço? Por que ele era loiro, bonito e rico. Se fosse preto, pobre e feio dúvido que iam querer esse final. Canalha rico e bonito, pode. Canalha pobre e feio não! Lembra de Belissíma que torciam pelo Antony que fazia um canalha também?

Anônimo disse...

Dedinhos, perdoe o anacronismo, mas não posso deixar de ressaltar a petulância e covardia do autor. Aguinaldo Silva quis se fazer de vítima e jogar toda a responsabilidade para cima do telespectador, mas ele sempre planejou esse final. Basta ver o PROJETO INICIAL DA NOVELA: era a história de um homem que, depois de muitas maldades (incluídos crimes), acaba sentindo o desejo de mudar de vida e se reabilitar. A partir daí vive o impasse entre se redimir e pagar pelo que fez, ou ignorar seu desejo e sair impune.

A maneira como a história foi conduzida, mostrando a triste infância do vilão (vendido pelo pai e criado por um criminoso), que se não justifica, explica a insensibilidade, ausência de princípios e desapego emocional do personagem; o fato dele ter sido separado contra sua vontade da família, e, já adulto, se esquivar de criar laços emocionais; o detalhe dele partir sem saber que teria um filho, a seguir fazer uma vasectomia e reencontrar o filho justamente quando pensou em reverter a cirurgia, sem sucesso; a paixão desmedida que, claramente, a ex mulher nutriu por ele durante toda a trama e que fez naufragar todos os seus relacionamentos na novela; a personalidade do menino, afetuoso e cheio de afinidades e semelhanças com o pai (nos gostos, gestos e, sobretudo, tão persistente e manipulador quanto ele em seu plano de unir os pais), indicavam desde o princípio que a meta do autor era a reabilitação de seu vilão e o filho era a chave para abrir seu coração.

Discordo que Ferraço desprezou o menino quase sempre (para mim era evidente pela música de cordas de violão de sua juventude, que tocava sempre que estava com o menino, e pelos olhares perdidos e lembranças familiares que ele tentava sufocar quando tinha contato com o garoto, que desde o primeiro momento ele se sentiu mexido com a paternidade, mas fez questão de negar para si mesmo, e para sua noiva cúmplice, desmerecendo o pequeno e justificando suas atenções ao menino como simples tentativas de salvar a própria pele, quando na verdade ele queria se safar, mas também se sentia tocado pelo menino. Talvez tenha sido difícil de digerir ele conquistar o perdão de Maria Paula, mas a redenção do vilão, que não necessariamente demandava o perdão da esposa, sempre esteve na pauta do autor.