Amigos virtuais

Sabe aquele papo de mãe que não devemos falar com estranhos? Isso ficou praticamente impossível depois da Internet. Uma das coisas que mais me prendia nos primeiros meses de navegação era falar com estranhos. Adorava! Mas confesso que demorei um pouco a entrar em chats. Achava que era passatempo pra gente louca, ou solitária. Até que um dia, quer dizer, uma noite, me enquadrei nas duas categorias e mergulhei de cabeça nas salas de bate-papo. É verdade que encontrei alguns tarados, mas foram fáceis de identificar. São os tipinhos que ficam excitados só de ver um nick feminino. Ninguém merece ser molestada por um monitor. Se o cara perguntar o que você está vestindo, pronto, puxe o cabo de conexão ou responda: "um camisola de algodão velha com bichinhos, uma calcinha bege furada e as meias do meu pai. O par social". Ele vai broxar na hora. Bem, depois de me armar contra os maníacos, resolvi entrar nas salas de Portugal. Queria conversar com pessoas que eu nunca teria a chance de conhecer pessoalmente. Isso era o que me atraia. Logo de cara conheci um publicitário, o Mister_X. A conexão foi imediata e o carinho, real. Foi por causa dele que acabei fazendo meu curso de publicidade. Mesmo tão longe, sem qualquer presença física, sem ouvir a voz diretamente, sem olhar no olho, o Sr. X ajudou a mudar minha vida. Somos amigos até hoje, 8 anos depois. Durante esse tempo, acabei freqüentando salas mais próximas da minha casa e fiz outros amigos internéticos que renderam muitos momentos de alegria, descontração e aprendizado. Alguns eu conheci pessoalmente e no balanço total, tive mais experiências boas do que ruins, como a Lua Nova, do Recife, passamos madrugadas inteiras conversando. Uma vez, ela meu deu um livro de presente, autografado! Ela manda muito bem nas letrinhas. Um curitibano virou meu guia quando fui visitar minha prima no sul. Também tive uma grande surpresa ao descobrir que o advogado candango era irmão de uma moça que tinha estudado com a Sabrina, a amiga que eu ia visitar em Brasília. Mas os cariocas são a grande maioria. O futuro delegado tornou minha conexão do vôo pra SP muito mais agradável ao despencar pro Galeão só pra me conhecer. O analista de sistemas só me vê pela janelinha do MSN, mas divide comigo a paixão por filmes e ganhou meu coração pra sempre depois que passou mais de uma hora comigo me ajudando a botar legenda em alguns capítulos de Lost. Por falar em Lost, se o carioca/capixaba/paulista não tivesse aparecido de corpo e alma naquela festinha da agência, demoraria uma eternidade até ver a 2ª Temporada. Tem o músico que me deu muito apoio em momentos difíceis, está morando por aqui e casou. E tem aquele capixaba, que apareceu uma madrugada com o nick de criança, mandou uma linda poesia e virou um amigaço. Meio desnaturado, mas muito querido. Até já fiz uns trabalhos pra ele. É... conheci muita gente legal. Infelizmente não tenho mais paciência pra chats com estranhos. Ainda bem que agora existe o MSN. Penso nele como um barzinho onde eu posso encontrar as pessoas que gosto, que quero manter contato. Por isso que muitas vezes, mesmo sem assunto, eu chamo pra dizer um "oi", como um aceno de longe. Amigos virtuais. Os maiores tesouros que encontrei ao navegar.

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