Anjinho X Capetinha

Ela: Eu vou ligar! Eu vou ligar!
Capetinha: Isso, liga logo.
Anjinho: Larga já esse telefone.
Ela: Mas por que eu não posso?
Capetinha: Porque você é mulher. Aposto.
Anjinho: Exatamente, minha filha.
Ela arregalou os olhos, surpresa.
Capetinha: Eu não sabia que você era machista.
Ela olhou feio pro Anjinho.
Anjinho: Eu não sou machista. Sou realista.
Ela olhava pra um, olhava pro outro e voltava a encarar o celular.
Ela: Mas a gente dormiu abraçado.
Capetinha: Tá vendo? O homem não consegue te largar. Ele te ama.
Anjinho: Ele também dorme assim com o travesseiro. Lembra que ele tentou te afofar logo que pegou no sono?
Ela: Teve o convite pra ir ao cinema.
Anjinho: Mas não disse o dia.
Capetinha: Hoje, casal paga meia.
Anjinho: Nem escolheu o filme.
Capetinha: Amanhã sai de cartaz aquele que ganhou o Oscar.
Ela: Ahhh... eu queria tanto ver o Del Toro.
Anjinho: Por que você não vai dar uma volta?
Capetinha: Chama ele pra tomar água de coco na praia.
Ela: A lua está enorme de cheia, nós dois de mãos dadas...
Anjinho: Reparando melhor, acho que vai chover. Pega um livro.
Capetinha: Isso, leia pra ele este trecho “Fernando sempre disse que a maior fantasia dele se cumpriu no dia em que foi chupado por Sister Grace, com ela toda nua, menos pelo arranjo de cabeça de freira.”
Anjinho: Que pecado é esse?!
Capetinha: Nunca leu A Casa do Budas Ditosos?
Anjinho: Quem escreveu isso?
Ela: João Ubaldo Ribeiro.
Anjinho: Pensei que fosse coisa da Bruna Surfistinha.
Capetinha: É uma obra de arte.
Anjinho: Obra do cão, você quer dizer.
Ela: Será que ele ia gostar?
Anjinho: De que?
Ela: De me ouvir ler.
Diabinho: Vá em frente. Sua voz é sexy.
Anjinho: Ele vai pensar que é do Tele-sexo.
Ela: Hummm... não. Eu ia ficar com vergonha.
Diabinho: Manda um torpedo.
Anjinho: Torpedo é pra mensagens curtas.
Diabinho: Manda um e-mail.
Ela: Ele tá sem Internet em casa.
Anjinho: Graças a Deus!
Ela: Por que você não faz alguma coisa pra ele me querer muito?
Anjinho: Sou um Anjo, não um Cupido.
Diabinho: Tá vendo que má vontade?
Ela: Mas me fala. Que mal há em uma garota ligar para o cara que está a fim?
Anjinho: Teoricamente não tem nada demais. Seria até natural.
Ela: Então? A gente já se conhece há anos. Já ficou junto algumas vezes...
Anjinho: Mas na prática é outra história.
Diabinho: Ele vai te achar decidida.
Anjinho: Ele vai te achar é uma oferecida, na pior das hipóteses.
Ela fez cara de choro.
Anjinho: A homaiada torce o nariz para mulher que liga no dia seguinte. Acha que é, ou carente, ou problemática, ou pegajosa.
Ela: Mas eu não sou nada disso!
Capetinha: Claro que não! Você é normal. Ele vai entender que você só apareceu porque gosta dele. Só isso. Sem estresse.
Ela: Você acha mesmo?
Anjinho: Será o Benedito que você acredita em tudo o que te falam?
Capetinha: Você é muito negativo. Eu sim, dou bons conselhos.
Anjinho: Se conselho fosse bom, a gente vendia.
Capetinha: De onde você acha que veio aquela galinha com farofa?
Anjinho: Agora deu pra fazer despacho!? Não acredito!
Ela: Mas o dízimo também está em dia. Religiosamente.
Capetinha: Da próxima vez vamos dividir essa verba direito, com justiça. A cidra tava meio passada.
Ela: Gente, vamos nos concentrar no assunto? O que eu devo fazer?
Anjinho: Como eu ia dizendo... fica na sua. Você nunca correu atrás de ninguém. Por que isso agora?
Capetinha: Tem sempre uma primeira vez.
Ela: Eu gosto dele de verdade.
Anjinho: Se isso está cegando você, ao menos abra os ouvidos. Não telefone e, se ele demorar muito a ligar, seja seca, para ele aprender a te dar valor. Porque ele fica por aí, né? Com a mulherada toda no pé. Ele tem que saber que você é diferente.
Ela: Trocando em miúdos. Eu quero ficar com ele, mas tenho que fingir que não quero.
Anjinho: Não é fingir. É acreditar nisso, criatura!
Ela: Tenho que fazer joguinho.
Anjinho: Não bote palavras na minha boca.
Capetinha: Ahá! Jogatina é comigo. Tem gente que aposta até a alma.
Anjinho: Seu coisa-ruim dos infernos!
Diabinho: Eu faço o meu trabalho e você faz o seu. E sem ofensas, faz o favor.
Ela: Espera aí. Eu tô achando isso muito estranho. Você – olhando pro Capetinha do lado esquerdo – não era para tentar me afastar do gato?
O Capetinha deu de ombros, desanimado.
Ela: E o senhor – olhando pro Anjinho, do lado direito – não era pra mandar eu ouvir meu coração? O amor não vence tudo?
Capetinha: Desisto. Ela é toda sua.
Ela: Quer saber? Pra mim chega. Não quero mais saber dele! Nem de vocês dois.
O Anjinho também deu de ombros, mas estava irritado. Era cada vez mais difícil manter-se fiel à própria natureza para cumprir a meta do mês. Ainda bem que a cidra era de péssima qualidade.

21 comentários:

AA disse...

hahaha!
Muito bom! Adorei!
Sinceramente, muito bom o seu blog também!
Grata por sua visita!
Ótima semana!
Bjs

Renatinha disse...

Ótimo texto!
hahahah quantas vezes passamos por esta situação?
Quantas?
beijos
Re

Flávia D. disse...

Realmente...é bem assim...a gente nunca sabe pra qual vai dar ouvidos...hehe
bjoos e boa semana!

Anônimo disse...

Hehehehehe.

Ainda bem mesmo.

Anônimo disse...

mto bom seu blog
parabens

c kiser pasa nu meu
http://ehtudoloco.blogspot.com

Tudo ou nada ... disse...

Muito legal seu blog, super divertido. Valeu pela visita, espero que volte sempre.
Bjão

Ricardo Rayol disse...

muito muito louco ... obrigado pela visita e fiquei curioso.. você é uma versão blogosférica da Eliana?

Déa disse...

OI, oi! Obrigada pela visita ao meu blog, mas a peça está em cartaz em Salvador. Se aparecer por aqui, não deixe de ver. Beijos

Déa disse...

Venha a Salvador, Rss Não vai se arrepender (e não deixe de ver o Indignado!!!!!) Beijos mil

Anônimo disse...

As mulheres e suas incertezas na hora de tomar uma atitude. Mas está certa. Não dá para correr muito atrás mesmo. De qualquer forma, ótimo texto para abordar um assunto comum entre vocês. Parabéns. Quer meu telefone? Eu não vou me importar se me ligar. Você é de Vix?
Paulo

Dedinhos Nervosos disse...

Ricardo, quem é Eliana? Já adianto que se for aquela apresentadora lourinha, não tenho a menor idéia se sou sua versão blogosférica pelo simples fato de não ver o seu programa, nem saber nada sobre ela.

Nathália Affel disse...

òóteeemo!
hahaha
=)
adorei aqui

Obrigada pelo comentario no meu blog!
=)

Beijoooos

Anônimo disse...

Seja bem vinda, e volte sempre. É sempre gostoso ter gente nova em casa. rs...
Quanto ao texto, não vai dar tempo de ler agora, estou no trabalho. Prometo que assim que der, leio.
Beijos
Alec

ED CAVALCANTE disse...

NÃO ACHEI QUE FOI INDECISÃO, AS VEZES QUANDO PONDERAMOS ISSO É CONFUNDIDO COM INCERTEZA. NÃO DÁ PRA SEMPRE RACIONAL, MAS SEMPRE QUE POSSIVEL...

Plinio Uhl disse...

hehe. adorei o texto. mto bom. tava com saudades e me contorcendo para passar por aqui. mas, como vc sabe, tava estudando. a prova foi dom passado. vamos ver agora. não sumo mais, ok? bjuz.

blog disse...

O tom dramático, teatral, é perfeito a essas ocasiões nas quais a indecisão é o fundamento.
Bacana.
O anjo e o capeta, no fundo, querem o bem.
Essa é a solução interessante.
Valeu.

Liliane Araujo disse...

A-do-rei!!
E faço coro com o anjinho...
Sair pra caminhar com uma companhia legal, e se for guerreira mesmo, ainda deixa o celular em casa, hehehe.
Bem legal aqui.

Tyler Bazz disse...

HAhahahahahahaaha...

Melhor, só se fosse uma Anjinha e uma Capetinha...

;)

Helena Cortez disse...

Menina, você já pensou em escrever roteiros? Você é excelente em diálogos!! bjos!

Anônimo disse...

Concordo com a Helena. Achei muito criativo. Ah, eu já havia lido o livro dos ditosos rsrs...

bj

Paula disse...

Putz, fantástico, fantástico. Achei até que era eu falando com meu capetinha e meu anjinho! Humm, não sei se dispensaria os dois e o cara... Adorei, adorei!

Beijos,