Prazo de validade

Você já se sentiu velho demais para alguma coisa que desejasse muito fazer? Ou novo demais para outra? Ouvir, dançar ou cantar uma música. Ver um desenho animado, ou um clássico do cinema mudo. Soltar pipa. Conhecer a Disney. Tocar violão. Bateria? Flauta? Mudar de profissão. Ter um filho. Namorar alguém com idade muito diferente da sua. Emagrecer. Qualquer coisa. Pensa aí. Você vai lembrar. Eu já não me sentia assim há muito tempo e foi bem chato. Aconteceu no domingo passado, num churrascão onde fui de penetra com amigas de longa data. Todas casadas, mães de 2 filhos, no mínimo. Todas maravilhosas, engraçadas e alto astral. Elas se divertem muito com as minhas histórias. Eu me formei com a mais nova da família e temos muitos causos para contar. Tudo ia bem quando Beautiful Day cedeu lugar à Festa, de Ivete Sangalo. Lá pela metade da música, lembrei que ela se apresentará aqui, em agosto. Eu nunca fui a um show dela em Vitória.

Eu (animada): Acho que vou dormir na sua casa depois do show da Ivete.
Amiga 1 (solícita): Pode ir. O povo lá de casa vai também.
Eu (rindo): Pois é. É longe pra caramba e o táxi vai me custar um rim.
Amiga 1 (solícita): Vamos combinar de você ficar lá em casa, sim.
Amiga 2 (rindo): Anna, você vai parar com essa vida quando?
Eu (sustentando o sorriso): Por quê? Você quer que eu fique em casa fazendo sapatinho para os filhos das minhas amigas?

Não sei como ficou a minha cara porque sou muito transparente e dei a resposta tentando não perder a linha. Me senti péssima e mais velha do que a Dercy. Nesse exato momento, fui salva pela música que marcou meu carnaval de Salvador: “Eu fui atrás de um caminhão fazer meu carnaval e o carnaval é feito no coração...”

Relembrei o domingo de carnaval, a energia que senti no Farol da Barra, sob o céu azul e cercada por uma multidão colorida e alegre que estava lá para ver o Chiclete. A sensação chata logo passou, mas fiquei encafifada com esse assunto. Quando a gente tem que deixar de gostar de fazer alguma coisa que realmente adora? Qual o fator decisivo? A idade? Estar casada? Ter filhos? PEMMMM. Respostas erradas. Pelo menos para mim e para outras amigas solteiras, casadas e separadas, de idades tão variadas quanto os gostos musicais e culturais. O fator, que eu perguntei e eu mesma vou responder, é só um: a cabeça. E a minha nunca terá preconceitos de que existe idade para a diversão.

Eu me apaixonei pelo trio elétrico aos 16 anos e agora, que vou fazer 35, a folia ficou inadequada para mim? Pensei nisso um tempão. Eu deveria ficar deslocada no meio daquela multidão puxada pelo Chiclete com Banana em Salvador? Eu me senti em casa. Será muita animação e energia para uma balzaca? Deveria arrumar uma turma e voar para Olinda, vestir fantasia e seguir as marchinhas? Ou adultos fantasiados também são inapropriados? Quem sabe me isolar em algum lugar bonito e calmo, ler um livro cult e ver uma dezena de filmes cult durante todo o carnaval? Só pra dizer que sou cult? Cultérrima? Pois eu não vou fazer nada disso. E não é por estar solteiríssima, porque se estivesse casadíssima, pode ter certeza de que meu amor me faria companhia. E se eu tivesse filhos, eles ficariam em casa com a minha mãe, que nunca gostou de carnaval (viva a diferença!). Para quem acha que Salvador não é balada para casal, vou falar sobre a Marcela e o Jônio, que estão juntos há uns 12 anos, e também foram comigo. Algumas noites eles só chegaram em casa depois de mim. O casamento não invalida o espírito folião.

Logicamente certas preferências mudaram de uns anos para cá. Já que comecei falando sobre música baiana, confesso que gostava muito de axé, mas os únicos que ouço agora são o Chiclete e a Ivete, em momentos especiais. Por outro lado, me rendi ao blues e a ópera que, antes, achava uma gritaria sem fim. Carmen me conquistou. Filmes? Muito sangue anda me deixando nervosa. Dança? Continuo amando sacudir o esqueleto em boates e até em casa. Um ainda dia faço aulas de dança de salão. Livros? Gosto tanto do Harry Potter quanto o último que li: Quando Nietzsche Chorou. Cultura ou esbórnia? Em SP, cheguei a trocar uma noitada num club para ver O Fantasma da Ópera.

É claro que o tempo nos torna mais exigentes e seletivos, mas esse tempo se refere mais à experiência acumulada do que com o passar das primaveras. Quem não compreende isso, constrói um contador invisível que vai minando algumas possibilidades que seriam espetaculares, como mudar de profissão ou de cidade. O prazo de validade só acaba quando a vontade se esgota por conta própria e não por imposição. Chega de preconceito, gente. Eu nunca vou deixar de fazer as coisas que gosto por um motivo muito simples e definitivo: me sinto feliz.

17 comentários:

TaylorMade by PR disse...

Concordo 100%. Tb amooo axé, carnaval e Salvador, tb me apaixonei pelo axé com 15 anos, e até hj sou fiel, e não tenho vergonha disso. Me senti em casa tb no bloco. Arrumei alguem q tb gosta e me acompanha, thanks God...e sou total a favor do faça o que te faz feliz. Adorei o post.
Bjos.

ps: amoooo Harry Potter, e amei Quando Nietsche chorou.

Gabi disse...

Vixe.......
não poderia ser mais clara!!!!rs
já havia comentado que tais "comentários" e "certos rótulos" são dados por pessoas que esqueceram como é ser livre e feliz, fazer o que quer sem se preocupar com os outros, se divertir sem esperar nada em troca a não ser a satisfação da curtição. Por isso, nem merecem minha atenção....rs
mas concordo plenamente...
bjooo

PS: e q a Ivete nos espere!!!! hahahaha

Plinio Uhl disse...

eu não vi problema no seu comentário. tá mais do q certa.

sobre me sentir velho pra fazer algo, bem... desde os 26 me acho velho demais para colocar aparelho nos dentes, hehehe. imagine agora às portas dos 32...

bjuz

P.Winter disse...

Caramba,Dedinhos
Vc atacou um ponto em que eu tenho pensado muito mesmo.
Estou descasado,com 32 anos e meus amigos ou estão casados ou são bem mais novos.E,às vezes me sinto deslocado do grupo.
Adoro festas,adoro baladas e carnaval,mas às vezes eu quero ficar em casa.E aí vem a cobrança:"Tá ficando velho,hein bicho"
Aí eu pergunto como vc:Qual a hora de brincar?Qual a hora de parar??
Adorei o post.

bjs

Débora disse...

Oi,querida
Essa sua amiga nº2 é uma escrota!!
Deve ter inveja de sua vida cheia de emoções.
Olha,não há idade apropriada para nada...o que conta é a saúde de corpo,mente e espírito.Continue se divertindo!!

bjs

Moni disse...

As vezes eu tenho a sensação de q sou nova demais pra umas coisas e velha pra outras... mas acho q td deve ser dosado, levar td a sério nem sempre é o melhor! beijos

Renatinha disse...

No mundo. A única coisa que interessa é o que nos faz feliz.
Fu no show da Ivete ano passado, de tênis e top, para suar, dançar, berrar gostosa.... E me senti nova ao sair de lá. Remoçada 30 anos. Um bebê...
A idade está na nossa cabeça. E nas nossas atitudes com a vida. O resto? Que resto? Vamos customizar o abadá e nada de tricotar sapatinhos....
rsrsrsr
beijos
Re

Dedinhos Nervosos disse...

Oi Débora. Ela não é escrota, não. Só fez um comentário infeliz, acho que nem percebeu o estrago. Mas mta gente tb pensa como ela. Fazer o que, né?
Bjos!

Helena Cortez disse...

E viva ser feliz. Ser quem você é. E isso. :D Vai na Ivete! bjos

Gaby Sipioni disse...

Ei perua.. fiquei espantada com o seu post. Na verdade, acho que você não vai mudar nunca.. pensar que acabou seu tempo para isso ou para aquilo é uma coisa que pertence só aqueles que não te conhecem. Você é o que é e todos te amam desse jeitinho.
E, se formos falar de idade, acho que ela não influencia nem um pouco.. analisa a minha pessoa: sou velha desde que tenho uns 15 anos.. fazer o quê?!

Moderninho Ultrapassado disse...

"Sangue de Cristo tem poder..."Que crise, hein? Tenho a impressão que, por mais felizes que suas amigas sejam, ao menos uma vez por dia, elas se perguntem: "O que faria eu se estivesse solteira drante uma semana? Talvez, uma dia. Quem sabe uma noite. Suas amigas devem ser legais. Mas acho que sou mais você.

Dedinhos Nervosos disse...

Rogério... vou te contar que tenho umas 3 que ficariam desesperadas só de pensar hahaha

Kakaya disse...

É isso aí!Idade já é um rótulo em si!
Muitas vezes me pergunto de onde vem essa força mágica que as pessoas decidem encontrar no reveillon.Bem, a força eu sei de onde vem.Mas por que o fato de que ter uma divisão chamada ANO faz com que essa seja a data apropriada para novas promessas e renovação?Eu faço isso sempre que quero, sempre que posso, com o nascer do sol de todos os dias...As vezes a gente complica né?!
Então, idade não importa mesmo.O que importa são as limitações de saúde, tempo e aquelas que a gente cria na nossa mente!

Se joga amigaaaaa!
Beijos!

Anônimo disse...

Isso é uma coisa que a gente aprende com a idade, por exemplo. Que se danem os outros, o que eles pensam. "Quero mais é ser feliz!"
Se joga, com os dedos todos.

Bezzos, querida!

Déa disse...

Oxente! Já fui a milhares shows de Ivete e amo! Meu pai era amigo pessoal dela e eu acho ela o máximo! E voute dizer uma coisa: a nossa idade é o que menos interessa! O importante é ser feliz! Vou sim atrás do trio elétrico quantas vezes eu q quiser! Me acabi com a despedida de Tatau do Araketu! Gosto da avenida! Gosto do som! Gosto de viver! Cada pessoa gosta de coisas diferentes. Nada me atrai na maternidade. Nada mesmo.

E, tenho 38 anos.

Beijos

Daniele C. disse...

É relativo, como você disse. Vai da cabeça mesmo. Eu com 20 me sinto velha e não consigo virar uma noite. Acontece.

beijo

Marcos Costa Melo disse...

É por aí mesmo, você deve fazer o que te faz bem, que te deixa feliz, obedecendo, logicamente, a certas imposições que o tempo vai nos colocando, mas que o bom senso e o "pique" pessoal se encarregam de impor.

Eu frequentemente me sinto como você citou no início do texto, ou seja, velho demais ou novo demais. Mas não é uma sensação de agora, é de muito tempo. Com 16 anos eu já me achava velho para algumas coisas...hehe

bj