Domingo: Bloco Camaleão

Acordei animadíssima. Sem cansaço, sem preguiça e com energia de sobra pra gastar atrás do Camaleão, que comemorava 30 anos, 17 deles comandados pelo Chiclete com Banana. Fazia um lindo dia. O céu estava azulaço. O sol brilhava com força acima do Farol da Barra, que tinha à sua frente milhares de fãs em busca da pata amada. E ela chegou causando grande estrondo pela voz de Bel, que distribuía risos e alegria como nunca vi aqui em Vitória. Se sorrisse mais a cara partia ao meio. Eu ali, ao lado da Gabriela, minha amiga de muitas micaretas, e de frente pro T. Rex, que parecia disposto a se fazer ouvir lá no Campo Grande. Bel começou agradecendo a presença de todos. Disse como era complicado manter um bloco por tanto tempo e cantou "Eu fui atrás de um caminhão, Fazer meu carnaval, E o carnaval é feito na coração"; "Abra a janela, Deixa o sol entrar, Mexa seu corpo, vem Chicletear...", seguida por outros novos e antigos sucessos que já eletrizaram milhões de foliões por este país afora. Nesse momento, uma enorme bandeira feita com dezenas de abadás antigos surgiu, e emocionou a banda e os demais camaleões que acompanharam a cena. Eu não conseguia acreditar que participava de tudo aquilo. Lágrimas começavam a brotar. Depois de 34 anos, conseguia acompanhar o Camaleão em seu habitat. Foda. Não achei outra palavra para colocar aqui. Foi FODA mesmo!!! E das boas.
{Para quem não gosta, é até estranho ler isso, afinal as letras não são nenhuma Brastemp, a voz não é potente e eu nunca vou a shows de axé, mas quando está em cima do Trio, o Chiclete com Banana emite uma energia tão grande, que é impossível não se deixar contagiar. As imensas caixas do T. Rex berram muito mais do que música aos ouvidos. Elas empurram felicidade ao coração, energia às pernas, balanço aos quadris, gingado aos ombros, sacudidas aos braços. Não tem passos pré-definidos. Você dança do jeito que quiser, algumas vezes, basta apenas arrastar os pés. É só seguir com as mãos pra cima, às vezes sem nem entender direito o que está cantando, mas essas horas passadas na companhia de pessoas com roupas iguais as suas, são eletrizantes, felizes e viciantes.}
Mas como ia dizendo antes de abrir os parênteses, lá fui eu, atrás do Chicletão, toda feliz e saltitante reparando melhor nos colegas Camaleões. As pessoas que compram este bloco não são pirralhas, graças a Deus. Vi, inclusive, vários grisalhos gatérrimos se divertindo horrores. Uma beleza. A parte chata é o contraste com a pipoca, que é a mais violenta do carnaval. São homens grandes, fortes e a maioria pula no mesmo ritmo, sacudindo os braços como se lutasse boxe, de cabo a rabo na corda. É impressionante. Perto deles, qualquer outra pipoca pode ser chamada de algodão doce.
Fizemos o percurso quase sem problemas. Na metade houve uma confusão das criaturas sem-noção que não entendem que precisam parar quando o Trio pára. Pela primeira vez na vida eu caí de traseiro no chão. Meda! A galera vindo pra cima, eu de mãos dadas com Gabi e Bruninho, com os cotovelos abertos pra me proteger, as pernas firmes, bem plantadas no asfalto, tentando me equilibrar. E todo mundo caindo, caindo, caindo... "putzzzz, vou cair" e pimba, no chão, em câmera lenta. Eu pra um lado, Gabi pro outro, Bruninho, que de inho só tem o apelido, pro outro, de joelho. Graças a Deus ele estava conosco nessa tsunami humana. Porque ele levantou na mesma hora e nos puxou. Foi um sufoco. Valeu Bruninho!!! Passado o susto, continuei o percurso com a mesma disposição do começo, só abalada quando constatei que a festa estava acabando ao ver o Camarote do Othon. Como assim, tinha pouco mais de 3 horas e já ia acabar? Ahhh, não! Fiquei danada da vida. Não conseguia acreditar. Mas tudo bem. Ainda tinha a 3ª feira, que retornaria ao bloco num trajeto muito maior do que o Barra-Ondina. Este foi o primeiro ano que o Camaleão coloriu a beira-mar. Tivemos a primeira vez juntinhos. A emoção me deixou de pernas bambas. Foi um tesão.

6 comentários:

Gabi disse...

assim,
nem sei o q falar.........rs
vc estava inspirada!!!!
mas aos q não conhecem, por mais clara e realista q seja sua narração só estando lá p/ sentir o q é o Camaleão!!! e claro, só podia acontecer conosco juntas: cair!! putz nunca aconteceu, mas tinha q ser na estréia p/ marcar a ocasião. mas graças a Deus Bruninho estava lá......rs
bjos

Louri Neto disse...

anna, impressionante a riqueza de detalhes que você consegue documentar a complexidade do carnaval. Como você em meio a toda aquela euforia refletiu sobre tudo aquilo. Vale a pena também relembrar a importância dos cordeiros para a festa popular, que enquanto milhares de foliões se divertem por essa maravilhosa festa, essas pessoas se "humilham" mas também se divertem para garantir a segurança dos associados dos blocos para ganharem no final do carnaval uma diária de 8 reais. Sem elas essa festa não poderia existir. Um retrato da sociedade brasileira também presente nessa festa. Os foliões pipocas, que também são representados por 80% do público do carnaval, os 20% ficam representados por camarotes e blocos. São pessoas de todos os tipos e lugares. Nesse carnaval vi muitas famílias saindo pelas ruas para brincar o carnaval que esse ano teve uma das melhores estruturas de segurança de todos os tempos. Não é fácil para a segurança pública controlar mais 1 milhão de pessoas bebendo e se divertindo pelas ruas e evitar possíveis confusões ou brigas. Existem pessoas que quando bebem se acham valentões ou acham que todos estão azarando suas mulheres. São os catadores de latinhas, a pipoca, os turistas, os artistas, as familias pobres e ricas, os mais jovens e mais velhos, revelações e consagrações, de gil a psirico, um palco da música mundial, um palco das raças e etnias, um palco da mistura de cores e tons, uma festa colorida pela cor dos abadás e dos camarotes. Todos se divertem independente de suas vidas. Nesse momento o mundo para. Para e vê seus artistas. É chiclete, ivete, durval, claudia leitte...é a Bahia. É o carnaval. É o que é.

Bruno C. Neiva. disse...

Micaretera xD

bem legal o texto, poderia ser jornalista =)

Bruno C. Neiva. disse...

Obrigado pelo comentário ;P

carlosfilhoo disse...

Fazia tempos que não sentia tantos arrepios ao ler um relato sobre o camaleão! Você escreve muito bem! Parabéns!
Depois visita o blog do nosso fã clube. Tem uma entrevista muito bacana contando toda a trajetoria de um chicleteiro com o Chiclete, entre outras coisas.
http://minhapaixaoechiclete.wordpress.com

Beijos!
Carlinhos.

Anônimo disse...

Belissimo relato seu, mas domingo é o dia do Coruja e no campo grande... :D bjus JESUS TE AMA